quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Trabalhar em Portugal


                                                             Photo by rawpixel on Unsplash
Vivi 6 anos fora e começo muitas das minhas conversas, frases e argumentos com esta frase para validar um ponto de vista.

Isto, muito provavelmente, faz de mim a chatinha que viveu fora, mas a verdade é que as realidades que vivi, em Portugal e na Irlanda, são tão díspares que, no meu primeiro dia de trabalho na Irlanda, quando, às cinco da tarde toda a gente se começou a levantar e a pegar na trouxinha, eu achei que se tratava de um simulacro. Tinham-me dito que o horário era das 8h às 5h, com meia hora de almoço, mas eu vinha tão habituada a não se olhar para o horario de saída que nunca me ocorreu que fosse só isso, pessoas a sair a horas.

Vivi 6anos fora e sou acérrima defensora de Portugal e da produtividade dos portugueses. Os portugueses são dos povos mais engenhosos que já conheci, sendo que cheguei a trabalhar com 26 nacionalidades diferentes. São engenhosos, mestres na arte do desenrasca, trabalham bem sob pressão, são rápidos a encontrar soluções e têm uma capacidade tecnológica como poucos. NA Irlanda, eu era vista como o suprasumo do excel, porque em terra de cegos quem tem um olho é rei. Aqui sou só mediana. Ainda assim, talvez por causa deste mito que se criou de que não somos produtivos, em Portugal, sair tarde é visto como estatuto, atribui importância, é sinónimo de esforço e dedicação. Quantas vezes já ouvimos que fulano tal é consultor, trabalha muito, sai tarde e o diabo a quatro? Ou quantas vezes já ouvimos que a fulana tem um trabalhinho das 9h às 6h, não se chateia muito?

Vivi 6 anos fora e durante esse tempo, achava-nos ineficientes na gestão do tempo. Chegamos tarde, demoramos mais de uma hora ao almoço, fazemos reuniões, atrás de reuniões onde se fala muito e se faz pouco.

Vivi 6 anos fora e esse tempo permitiu-me perceber que fazemos porque podemos. Temos o luxo do tempo. Temos luz natural até tarde, temperaturas suportáveis até tarde, gostamos muito de comer e gostamos muito de falar. Somos tão eficientes quanto o tempo nos permite.

Vivi 6 anos fora e não podia estar mais feliz por estar de volta.


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