Ainda assim, não percebo o direito nem a necessidade de vir agora contabilizar o quão usufruiu. Se foi a Paris, se jantou à pála, se teve férias pagas. Porque usufruiu de uma pequena parte desse dinheiro de origem estranha, com base numa amizade dúbia, está agora impedida de sentir e manifestar o que quer que seja. E é isto que eu não percebo. Que sejam mulheres, também elas apaixonadas e desapaixonadas a atirar a primeira pedra.
Vi o cartaz da Irene Martín. A espanhola que exibiu no primeiro de Maio um cartaz com a palavra cona. O cartaz diz muito mais, mas todos os comentários que li focaram-se mais na palavra e nos seus pêlos sovacais. Que desplante este, uma senhora usar tal vernáculo (escrevo isto e oiço a minha avó falar, "uma senhora não faz, uma senhora não diz, uma senhora não ouve"). Que desplante este, o de uma senhora não se confinar às normas de beleza e deixar assim a natureza seguir o seu curso. Feia, puta, fácil. São outras mulheres que o escrevem. Que apontam o dedo. Que geram a polémica. Puta da femininista que escreve um cartaz que poucos percebem o que quererá dizer. Cujo o fundamento ou veracidade ninguém discute. Estaremos nós a sustentar o capital só porque nos saem homens do pipi?
As primeiras criticas e ataques, os mais agressivos partiram todos de mulheres. Talvez porque homens houve que se sentiram desafiados a comê-la. Talvez porque é apenas biológico e esteja ao nível dos períodos menstruais sincronizados, como forma de evitar a desvantagem ao olho macho. Talvez devessemos saber melhor no século XXI. Enquanto formos isto, umas para as outras, continuaremos a sustentar o capital sem sequer o perceber.
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