Gosto que me chamem
histérica. Significa que já tenho voz.
Gosto que me
digam que a minha roupa é inapropriada. Significa que já posso escolher o que
visto.
Gosto que me
chamem de leviana. Significa que já posso decidir a minha vida sexual.
Gosto que me
tentem explicar política como se eu fosse muito tontinha. Significa que já
posso votar.
Gosto que tentem
aconselhar-me profissionalmente. Significa que já tenho opção de escolha.
Sou uma privilegiada
e, por isso, hoje não quero comemorar.
Gosto de todos
estes direitos que alguém conquistou por mim e dou por garantidos. Não gosto quando
me criticam por gozá-los. Seja para emitir uma opinião que muitos outros privilegiados
nunca vão entender, seja por vestir uma roupa que não se encontra dentro dos
moldes da minha sociedade.
Não gosto quando
percebo que nem todas as mulheres do mundo usufruem destes meus direitos. Não
gosto quando ainda se educam mulheres para se subjugarem à vontade de um homem.
Não gosto, como descobri recentemente, que ainda se mutilem genitalmente
meninas, mesmo à frente do nosso nariz, mas nesse mundo distante que são os
bairros sociais.
Não gosto que não
se perceba que a violência doméstica é uma questão associada à identidade de
género porque se perpetuam ideias misóginas que levam homens a acreditar em
propriedade e honra e outras merdas que os levam aos números que hoje
conhecemos.
Durante muitos
anos, não gostei que me chamassem feminista porque também eu vivia nessa ignorância
de achar que feministas são aquelas que não aceitam as diferenças biológicas que
a natureza nos deu. Hoje, não gosto que me chamem de feminista porque sou uma privilegiada
que não está na linha da frente desta luta.
Não gosto de
jantarinhos de mulheres, de receber flores ou que digam que aquele que escolhi
para meu parceiro nestes meus direitos, hoje, tenha de cozinhar para mim. Hoje
não sou feliz por ser mulher. Sou triste por todas aquelas para quem ser mulher
é uma desvantagem.
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