quinta-feira, 19 de julho de 2018

A minha rua

A minha rua é aquilo que se pode chamar de rua de conveniência. É-me conveniente em vários aspectos. Ou assim mo dizem. Começa por ser conveniente só pelo facto de ser onde o apartamento da cara metade está situado. Quando começámos a namorar vivíamos os dois em casa dos pais (e não foi assim há tanto tempo), surgiu a oportunidade dele voltar para esta casa e eu, convenientemente, fui ficando. Dizem ser também conveniente a sua localização. Centro de Lisboa, perto de tudo, boca de metro mesmo ali. Pouco conveniente é o número de degraus dessa boca. Pouco conveniente é também o número de lugares para estacionar. Mas disso ninguém fala. 

A minha rua não tem nada de especial. Nunca vivi noutra rua de Lisboa, mas não lhe vejo particular encanto. À partida. 

À partida, é uma rua cinzenta. Um borrão como tantas outras ruas de Lisboa. Mas se olharmos com atenção os prédios até são coloridos. O que a torna cinzenta é este triste hábito dos portugueses de deitar lixo para o chão. Beatas, guardanapos (quando se tem um cão, percebe-se que grande parte do lixo deixado pelos portugueses são guardanapos e lenços de papel. O que dá imenso jeito, porque é das coisas mais fáceis de tirar da boca do cão), cocós de cão, móveis e etc. 
Também à partida, parece ser uma rua só residencial, sem comércio. Num segundo olhar, percebemos que tem duas oficinas numa ponta e duas lojas de indianos na outro. Pelo meio, cabeleireiros, cafés, papelarias e até uma escola primária, de onde, às 9h da manhã, soam uma série de idiomas imagináveis. 
Isto prova que uma aparente rua pacata tem tudo menos pacatez. São muitas as coisas que se ouvem e vêm nesta rua.

A título de exemplo, hoje, quando vinha a chegar a casa, estava um puto dos seus 12/13 anos, de isqueiro na mão, mesmo à porta do meu prédio, a provocar pequenos incêndios em dejectos que se encontravam no chão. Guardanapos, claro está. Se por um lado osincendiava com o isqueiro, por outro, pisava a sua obra com os pés para terminá-la. E eu acho que esta situação descreve na perfeição aquilo que esta rua é para mim: estranha. 


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