sexta-feira, 30 de novembro de 2018

The Americans



Uma das coisas que mais me fascina na série The Americans são as comunicações. Comunicações numa altura em que não existem telemóveis, a internet está nos seus primórdios e a criatividade humana é a maior arma para a sua eficácia.

The Americans, uma série da Netflix, passa-se nos anos 70. Os protagonistas são um casal de espiões russos a viver como americanos. A viver o sonho americano. 
Eles investigam, enganam, manipulam, disfarçam-se com um qualidade inverosímil, eles matam. Eles são tudo isto e, ainda assim, passamos toda a série a torcer por eles. A querer que sobrevivam e que cumpram as suas missões com sucesso. Essa é um dos maiores trunfos desta série, fazer-nos sentir empatia pelos maus da fita.

A série está repleta de momentos tensos. Momentos esses que, graças a uma excelente produção e realização, nos fazem eriçar a pele e acelerar o batimento cardíaco. A série tem, permanentemente, um tom cinzento. E não é por acaso. Esse tom, para além de invocar para uma era em que essas seriam as cores da televisão, fazendo-nos sentir que viajamos no tempo, também é a principal ferramenta para a tal tensão que se sente na pele. Há pormenores interessantes, que talvez escapem ao olho nu, mas não ao nosso inconsciente, como uma cena quase a preto e branco, com a exceção de um contrastante vermelho nos acessórios das crianças que, passivamente, ou talvez nem tanto, participam na cena. A série está bem escrita e melhor executada. 
Bons actores, excelente banda sonora e uma história que prende do primeiro episódio da primeira série, ao último episódio da última. Ainda assim, não há temporadas como a primeira ou como a última. A última, aqui em casa, foi vista em 3 dias e só porque tivemos que trabalhar. Está brutal. Tão brutal que hoje me sinto de ressaca. Queria mais. 

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Dinastia Tang




Se na minha review anterior achei que tinha feito mal o pedido, aqui, tenho a certeza.

Não ia a um restaurante chinês desde a adolescência, momento em que decidi não gostar de comida chinesa. Sempre me disseram que tinha que experimentar the real thing, ou seja, ir a um desses restaurantes onde os prórios chineses vão.

Não sei se o Dinastia Tang cumpre esse requisito. Não vi nenhuma pessoa de nacionalidade chinesa enquanto lá estive. Inclusivé o empregado era brasileiro, chegado a Portugal há dois meses. Mas foi assim que mo venderam. Na verdade convenceram-me pela proximidade ao evento a que iriamos mais tarde e eu achei que na pior das hipóteses comia um daqueles camarões panados e está a andar.

Sei muito pouco de gastronomia chinesa e tenho a vaga memória de uma tal de galinha com amêndoa agridoce que não combina com o meu palato. Por isso, enquanto os meus amigos se decidiam por um franco frito com amêndoa, eu optei pela massa com gambas.



A minha massa não era má, mas quandovi que, afinal, o frango era panado com amendoim, quis provar. E… Oh Meus DEUS! Já acho que quem inventou os fritos merecia um premio Nobel qualquer, quiçá o da paz porque com fritos não há cá guerras, mas fritos panados em amendoim é todo um outro nível. Adorei adorei adorei, ao ponto de já nem ter tirado fotos `deliciosa sobremesa, gelado frito. Para quem não sabe (até eu sabia!), gelado frito é um polme frito a envolver gelado. A mim sabe-me a fartura com gelado, mas em melhor. O polme veio quentinho e a estalar, proa de que acabou de ser frito, enquanto o gelado vem geladinho, geladinho. Não sei como é que aquilo é fisicamente possível, mas é bom, por isso, é continuar.


Neste caso, apesar deste restaurante também fazer parte do programa, não usei a minha subscrição Zomato Gold já a fazer planos de lá voltar com o namorado. Sonho com o raio do frango frito.

Ainda assim, como as doses são bastante generosas, eramos 5, mas 4 doses chegaram, o que, com entradas, vinho e sobremesas, pagamos a módica quantia de 16 euros por pessoa.
Dinastia Tang Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Namorado rifa-se



Namorado rifa-se. Ele não dá muito trabalho, sobretudo porque trabalha muitas horas e passa pouco tempo em casa. Se estiver a chatear a muito, basta darem-lhe um jogo para as mãos. Ele gosta muito do Football Manager, que é capaz de jogar até às 3h da madrugada, na cama, mesmo que isso acorde quem está ao lado, mas a verdade é que se lhe derem um jogo tipo a paciência, aquele jogo de cartas que todos jogámos no primeiro computador com Microsoft, também se entretém bastante. Mas, convém notar que isto é para os dois lados, não chateia, mas também deixa de ouvir e ficam cortados todos os meios de comunicação, mesmo que o mundo esteja a acabar.
Traz bagagem. Daquela que nem sempre é útil e um dia vai ligar depois da meia noite com um tema cuja urgência vocês não vão perceber.
Gostava de viver como as personagens da série Friends. Por ele, toda a gente tinha a sua chave de casa, desde os amigos às ex-namoradas. Sempre que se combina um jantar quer que seja em casa dele e é por isso que tem tachos e panelas de tamanhos industriais.
Se lhe derem os ingredientes, também trata da própria comida. Ou se estiver já entretido com o jogo da paciência, chama um uber eats, sem chatear ninguém. Pedir-lhe para fazer compras num supermercado é que pode ser perigoso. Pode acontecer como já me aconteceu a mim em que, quando confrontado com a falta de papel higiénico, ofereceu o rolo da cozinha ou, muito pior, pode ir, mas gastar o dobro ou o triplo sem ninguém perceber como. E não é por comprar vinho ou assim. Eu já fiz o teste. Sem vinho a conta vem ainda mais alta.
Por outro lado, se quiserem jantar fora é quase certinho que paga o jantar.
Tem uma boa cultura geral, mesmo que grande parte desta advenha do futebol ou do basquetebol. Sabe capitais de países porque o jogador de futebol tal foi para lá transferido, sabe o que são e como se comem scones porque o do basquetebol comeu num programa qualquer. Se o conseguirmos desviar destes desportos até tem uma conversa bastante agradável. Um desafio que vale a pena.
É ótimo para estas noites de inverno. Quentinho qual saco de água quente e excelente encosto no sofá enquanto se vêem séries. Dá bons abraços.
 Se precisarmos de ajuda com alguma coisa, não descansa enquanto não o fizer. E se calhar não perceber nada do tema com que precisamos de ajuda, vai fazer tudo para perceber, desde ler a falar com quem for preciso, até saber. E vai ajudar. Muito.
Se tivermos doentes, traz-nos chazinho, faz-nos o nosso prato favorito. Ou manda vir. Ainda assim, pensando bem, acho que compro eu todas as rifas.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Trabalhar em Portugal


                                                             Photo by rawpixel on Unsplash
Vivi 6 anos fora e começo muitas das minhas conversas, frases e argumentos com esta frase para validar um ponto de vista.

Isto, muito provavelmente, faz de mim a chatinha que viveu fora, mas a verdade é que as realidades que vivi, em Portugal e na Irlanda, são tão díspares que, no meu primeiro dia de trabalho na Irlanda, quando, às cinco da tarde toda a gente se começou a levantar e a pegar na trouxinha, eu achei que se tratava de um simulacro. Tinham-me dito que o horário era das 8h às 5h, com meia hora de almoço, mas eu vinha tão habituada a não se olhar para o horario de saída que nunca me ocorreu que fosse só isso, pessoas a sair a horas.

Vivi 6anos fora e sou acérrima defensora de Portugal e da produtividade dos portugueses. Os portugueses são dos povos mais engenhosos que já conheci, sendo que cheguei a trabalhar com 26 nacionalidades diferentes. São engenhosos, mestres na arte do desenrasca, trabalham bem sob pressão, são rápidos a encontrar soluções e têm uma capacidade tecnológica como poucos. NA Irlanda, eu era vista como o suprasumo do excel, porque em terra de cegos quem tem um olho é rei. Aqui sou só mediana. Ainda assim, talvez por causa deste mito que se criou de que não somos produtivos, em Portugal, sair tarde é visto como estatuto, atribui importância, é sinónimo de esforço e dedicação. Quantas vezes já ouvimos que fulano tal é consultor, trabalha muito, sai tarde e o diabo a quatro? Ou quantas vezes já ouvimos que a fulana tem um trabalhinho das 9h às 6h, não se chateia muito?

Vivi 6 anos fora e durante esse tempo, achava-nos ineficientes na gestão do tempo. Chegamos tarde, demoramos mais de uma hora ao almoço, fazemos reuniões, atrás de reuniões onde se fala muito e se faz pouco.

Vivi 6 anos fora e esse tempo permitiu-me perceber que fazemos porque podemos. Temos o luxo do tempo. Temos luz natural até tarde, temperaturas suportáveis até tarde, gostamos muito de comer e gostamos muito de falar. Somos tão eficientes quanto o tempo nos permite.

Vivi 6 anos fora e não podia estar mais feliz por estar de volta.


quarta-feira, 21 de novembro de 2018

O texto que ninguém quer ler



Hoje não me apetece fazer piadas sobre a minha relação. Hoje não me apetece partilhar fotos fofinhas da minha cadela. Hoje não me apetece falar de comida e de restaurantes.

Hoje estou triste. Estou triste porque vi o vídeo do Diogo Faro, o Sensivelmente Idiota no qual ele pergunta a várias pessoas se sabem o que é o feminismo e se são feministas. Fiquei triste, em particular, com as mulheres que dizem não querer saber ou ser contra. Uma dessas mulheres afirma no vídeo que a cozinha é lugar para mulheres. Diz que é uma questão de instinto e biologia. Achei curioso como algumas pessoas, dentro de casa, consideram a cozinha como um lugar feito para a mulher, quando cá fora, as posições remuneradas para se estar na cozinha são maioritariamente ocupadas por chefs, por homens.

A verdade é que eu já fui como a mulher que, no vídeo, diz não se interessar, que não é para ela, que não quer saber, enquanto come tranquilamente o seu gelado. Houve uma altura da minha vida que me dizia não feminista. E dizia isto porque estava desinformada e aquilo que me chegava às mãos, ou aos olhos, era informação sensacionalista ou extremista. Isso fazia-me acreditar que ser feminista era não aceitar as diferenças que a própria natureza nos atribui e contra as quais, por muito que se queira, não podemos ir. Achava que ser feminista era ir contra os homens ou não poder aceitar as suas cortesias. Demorei a perceber que é, sobretudo, sobre trabalho em equipa.

Feminismo, ao contrário do que alguém diz tanto no vídeo como por aí, não é sobre ter pelos ou não debaixo dos braços. Isso é outra coisa.

Feminismo, não é achar ou não o Cristiano Ronaldo culpado. Isso é só julgamento.

Feminismo não é fazer ou não parte do movimento #meetoo, não é achar que todos os homens nos vão desrespeitar limites físicos, nem é acusar homens de todos os males do mundo. Isso são outros quinhentos.

Feminismo é, como também diz uma mulher no vídeo (haja esperança), sobre igualdade de género. Igualdade de género é mulheres e homens serem pagos o mesmo pelo mesmo trabalho. Igualdade de género é perceber que, mesmo podendo engravidar, já que coube à mulher essa função na natureza, a mulher também pode ser (e é) uma mais valia numa organização. Feminismo é assumir que, hoje, a mulher faz tanto parte da massa trabalhadora quanto o homem e, por isso, em casa, ao final do dia, as responsabilidades são iguais. “Ajudar” em casa, fazia sentido no século XIX, quando às mulheres eram vedados ainda mais direitos e o papel que lhe cabia era “trabalhar em casa”. A evolução, levou-nos por outro caminho e hoje, salvo exceções, um agregado familiar é composto por dois trabalhadores. Duas pessoas que passam horas fora de casa, gastam energia fora de casa, dividem responsabilidades financeiras e, por isso, deveriam também dividir tarefas familiares.

Feminismo é, também, perceber que se por cá, no nosso cantinho, muitos dos nossos direitos já foram reclamados, noutros cantos do mundo tal não aconteceu e há mulheres que ainda vivem à margem daquilo que homens consideram melhor para elas.

Feminismo é, também, interessarmo-nos por isto e não aceitar o que nos vendem como certo ou tradicional ou biológico, quando biologia não é nada disso.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Polpetta - Almondegaria Artesanal


Alguma coisa está errada quando se ouve da cozinha um “sabes fazer sangria?” logo após teres pedido. E, efectivamente, a sangria não estava boa. Provavelmente, só mais um bocadinho de açúcar e a coisa ia, mas assim, sabia demasiado a vinho e a vinho mau.



A minha experiência no Polpetta ficou bastante aquém das minhas expectativas, mas acredito que parte da culpa também terá sido minha e das minhas próprias escolhas. 

Era cliente assídua de uma almondegaria quando vivi fora de Portugal. Adorava aquilo. Isso a juntar à alta pontuação no Zomato, potenciou demasiado as minhas expectativas. O que é injusto para o restaurante. Já se sabe que quando a expectativa é alta, raramente corre bem. 




Para quem não sabe, numa almondegaria para além do óbvio, que é comerem-se almôndegas, somos nós que escolhemos cada detalhe dessas almôndegas. Ou seja, escolhe-se o tipo de almondega, o molho e o acompanhamento. 



Na Polpetta temos 4 tipos de almondegas, de novilho, de frango, de porco e vegetariana que podem ser combinadas com 4 tipos de molhos, tomate, pesto, cogumelos e iogurte. Foi aqui que cometi o meu erro. Normalmente, escolheria sempre de porco, só que estas levam pimentos e eu odeio pimentos, por isso escolhi as de Novilho, que levam também ricota. Desengane-se quem, como eu, pensa que estes detalhes passam despercebidos. Sente-se, e bem, o sabor a ricota, da mesma forma que, segundo a minha companhia, se sentiam os pimentos nas almondegas de porco. Toda a gente sabe que a combinação perfeita perfeita para ricota é tomate. Era esse molho que devia ter pedido. O molho de cogumelos, a minha escolha, era bom, mas senti que estes dois paladares, ricota e cogumelos, se anulavam um pouco um ao outro. 
De resto, as batatas fritas eram perfeitas. As bolinhas de alheira que pedimos de entrada eram deliciosas. Estaladiças por fora, macias por dentro. O serviço era excelente. Simpáticos e muito prestáveis.

Como tenho Zomato Gold, o segundo pedido, também de almôndegas, foi oferecido. Isto significa que, no total, pagámos a módica quantia de 11 euros. 


Faço questão de voltar e provar outra combinação.

Para aderir à subscrição do Zomato Gold com 25% de desconto, podem usar o meu Código ELIS3620. Com este sistema de oferecerem o prato do mesmo valor ou inferior, compensa bastante.



Polpetta - Almondegaria Artesanal Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato

sábado, 17 de novembro de 2018

Crónicas de uma vida a dois - A roupa

Para falar da importância do tema roupa na minha relação, tenho que tocar em dois aspectos, a capacidade estética e a capacidade para lavar. Se num, o João nunca me enganou, no outro, vim completamente ao engano.

O João gaba-se muito de saber fazer tudo em casa. Diz que a mãe o ensinou antes de fazer Erasmus. O problema é que não explica que a mãe ensinou 5 minutos antes dele arrancar e, até aí, fez-lhe absolutamente tudo. Desde tratar-lhe da roupa, até lhe descascar a frutinha toda. 
Quando o João veio viver para esta casa, em Fevereiro, eu, supostamente, ainda não vivia com ele. Digo supostamente, porque na verdade já passava cá bastante tempo e assim fui ficando até ao dia em que nos apercebemos que nunca mais saí. Para não andar com a trouxa sempre atrás, ia deixando alguns essenciais por cá. Quando me começaram a faltar cuecas, o João aproveitou. “Já que vais fazer uma máquina, podes lavar isto aqui, também?”. E eu, que namorava com ele há pouco tempo e ainda andava na fase da conquista, assenti, “claro que sim”. Vou lavar-lhe a roupa de tal maneira que nunca ele viu roupa tão bem lavada. Vai adorar-me, ainda mais, e viveremos felizes para sempre. E assim foi. Eu não sabia, mas este foi o mote para uma relação muito duradoura. A minha com a máquina de lavar. Até hoje, passados 8 meses, nunca o Joao sequer carregou num botão da máquina. Diz que não sabe. Tirou um curso superior, já trabalhou com consultor, mudou de área para passar a ser uma coisa que ninguém sabe o que é e que chamam de estratega. Estratégia para aprender a rodar um botão numa máquina é que nem vê-la. 

Depois temos a parte da capacidade estética do menino para se vestir. Felizmente, ele tem uma amiga que o adora e se predispõe a ir com ele às compras. Uma espécie de personal shopper. Ele avisou-me sobre isto logo no primeiro encontro. Conhecemo-nos no início do Verao, pelo que durante alguns meses só vi com umas t-shirts com graçolas e uns calções pelo joelho, que por ser gordinho e branquelas lhe ficam muito fofinhos. Conheci a amiga personal shopper precisamente no pleno das suas funções. Fui ter com eles ao corte inglés. Ia nervosa porque esta me parecia importante na vida dele e na minha validação enquanto merecedora do seu amor. Fiquei impressionada com a sua desenvoltura. Já sabe o que lhe fica bem, o número dele e deixa-o muito compostinho. 
Entretanto, chegou o Inverno e com ele veio a camisola da banana. Uma camisola de malha com um desenho de uma banana semi-descascada. Uma peça escolhida, única e exclusivamente, por ele. Sem ajudas. Quase que achei fofinho, numa cena à Bridget Jones e a camisola de Natal de Mr. Darcy. Só que não. 

A semana passada, quando eu achava que nada podia ser pior que a banana, ele diz-me, super feliz, que comprou uma camisola nova. Para finalizar e para se perceber o motivo pelo qual vale a pena escrever este texto, deixo-vos uma foto da dita. Deixo também a questão, como é que se destroem camisolas de modo a parecer um acidente? É para uma amiga. 






quarta-feira, 14 de novembro de 2018

A vida é demasiado incerta, começa pela sobremesa*



Para falar da minha experiência na ZeroZero tenho que começar pela sobremesa.
Isto porque só a sobremesa valeu o preço, valeu a deslocação, valeu tudo o que pudesse estar menos bom. Não que o resto da refeição não fosse boa, mas o Tiramisú era absolutamente extraordinário. Extraordinário. 



Nada de natas como se vê por aí. Nada disso. Este tiramisú, tal como o original, em Italia, leva leite condensado, ovos e, o que realmente faz a diferença e lhe confere aquela textura cremosa de levar ao céu, mascarpone. 
Não leva bolo seco (tipo palitos la reine), mas sim embebido num bom café, a contrastar na perfeição com o doce do leite condensado e, provavelmente, açucar. 

Eu não comecei pela sobremesa, mas está claro que a razão número 1 para que ali volte será sempre este tiramisú e a razão número 1 para recomendar este restaurante. 

Por acaso, mas só mesmo por acaso, razões há muitas. 
Voltemos, então ao início. 
Resolvi experimentar duas entradas. O Carpaccio di Manzo e a Frittura di Calamari. Este pedido implica dar os meus parabéns ao serviço que teve o cuidado de se certificar do pedido explicando que não se trata de uns simples calamares acompanhados de legumes. Tem calamari sim, mas apenas alguns porque trata-se duma misturas de fritos em polme, ou seja, os legumes também são fritos. Presumo que esta necessidade de explicar venha de alguma eventual reclamação de gente que fosse à procura ou de um fartote de lulas ou de fazer ideia com legumes cozidos saudavelmente. Não era o caso e, ainda bem, porque privar bróculos fritos em polme era uma experiência que fazia falta na minha. Estou a falar a sério. Aquilo é bom. 
O carpaccio tem duas características importantes de referir, sendo a primeira o básico de qualquer carpaccio digno do nome: a qualidade da carne. A segunda prende-se com a supresa de ter pistachios na sua confecção. Uma combinação improvável, mas que resulta. 





Como prato principal fiz aquele que é o meu grande testes em pizzarias. (Ou era, antes de saber que ia provar a tal sobremesa que me ia levar ao céu.) Se há coisa que eu gosto muito é de pizza de 4 queijos, quando bem conseguida, o que, infelizmente, nem sempre é o caso. Na ZeroZero é 4 o número de queijos, mas 5 e a Pizze 5 Formagi cumpriu a sua função. Com uma massa bastante fina, tal como eu gosto, mas, e esta foi outra das supresas, com uma espessura em queijo de babar e chorar por mais. Não posso dizer que tenha ultrapassado a minha pizza de 4 queijos favorita em Lisboa, mas recebe um honroso 2 lugar.



Para terminar, falta falar do menos bom. Para acompanhar toda esta loucura nas minhas papilas gustativas, optei pelo chá frio e apesar deste ter uma bonita apresentação e cor, me fez sentir falta do sabor a chá. Senti com bastante facilidade um sabor a limão que me agradou, mas fiquei na dúvida se realmente lhe podemos chamar chá. Numa próxima visita espero ter melhor sorte com um dos coktails a jarro que tinham, também, muito bom aspecto. 





*frase de Ernestine Ulmer

Zero Zero - Parque das Nações Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato

domingo, 11 de novembro de 2018

Como a websummit quase destruiu a minha relação

Às 10h em ponto já estava eu na fila para me registrar naquele que diziam ser o acontecimento, não do ano, mas de uma vida.
Não percebo nada de tecnologia, nem muitas das 70.000 pessoas que fizeram questão de ali estar, na feira mais tecnológica do mundo, a Websummit.

Na verdade, a minha excitação prendia-se mais com a minha companhia que com a feira. Iamos estar juntas depois de alguns meses. Na verdade, alguns anos, já que depois de eu ter emigrado para a Irlanda, passámos de um convívio diário, para um convívio mais esporádico. Quando dizem que nunca mais voltamos ao mesmo lugar, é disto que falam. Das novas rotinas, das novas famílias, das estradas que mudaram de sentido, prédios que foram construídos, lojas que fecharam. Os amigos habituam-se a viver sem nós e retomar de onde ficámos é duro. 

Chegámos sem fazer a mínima ideia daquilo que devíamos esperar do pretexto que agora nos juntava. E aquilo é um mundo. As tais 70.000 pessoas, um número sem fim de start-ups, stands de empresas menos starters, conferências, pitchs, encontros, brindes, comidas e bebidas. 

Passámos o dia a tentar encontrar o fio à meada e acabámos, cansadas, sentadas numa esplanada. Bebemos uma caipirinha para relaxar. E depois outra. E foi quanto bastou para eu ficar totalmente embriagada. 

Fui visitar o stand do João, o meu namorado, que se encontrava também ali, em trabalho. Conta ele que vinha contente e a falar alto. Mesmo no ponto ideal para me apresentar à chefe, colegas e outros que tais. Só que não.

A custo, lá me arrancaram dali e fui para casa. Na altura vivia na outra margem, pelo que tinha que apanhar o metro, o barco e, finalmente, o carro. Vomitei na casa de banho de uma das estações de metro, o que deixou o João, que ia acompanhando a saga por mensagens, em sobressalto. Tentou dissuadir-me de ir assim para casa, mas eu, bebeda, tinha uma missão, não queria perturbar o seu trabalho. Disse-lhe que não, que já estava no barco, que não valia ir-me buscar e pardais ao ninho. 
Entretanto, faltavam 30 minutos para o barco, tinha fome e, como não estava na posse de todas as minhas faculdades, achei que era tenpo suficiente para ir jantar, voltar e apanhar tal barco. Fiquei sem bateria no telefone. Perdi a noção do tempo. Perdi o barco. 

Quando, finalmente, arranjo maneira de ligar o telefone e contactar o João, este tinha-se deslocado à outra margem para me impedir de pegar no carro. Como eu tinha perdido o barco, ele já lá estava há uma hora sem fazer puto de ideia onde eu estaria. Ligo-lhe sem fazer também ideia da sua espera.

- onde estás?
- estou a jantar com o Marco. 

Ele não disse, mas eu ouvi no seu tom de voz, “quem raio é o Marco?”. 

E eu explico-vos, aqui e agora. Fui jantar ao H3 do Cais do Sodré. Aquele em que servem às mesas. Estava lá sentadinha sozinha convencida de que tinha todo o tempo do mundo para apanhar o barco, quando vejo um colega de trabalho, também ele sozinho. Juntámo-nos na mesma mesa. E foi só isto. 

Quando percebi que o João estava à minha espera, corri para o barco. Acho que ainda tive que esperar outra meia hora. No total, o João esperou por mim duas horas, sempre sem saber quem raio era o Marco. 
Cheguei e levou-me a casa. Quando chegámos, estava a minha mãe à porta a passear a minha cadela. O João ainda não tinha sido oficialmente apresentado à família. A minha mãe deu por falta do meu próprio carro. Eu expliquei-lhe, “Ficou nos barcos porque eu não estou em condições de conduzir”. Isto sem dar qualquer oportunidade ao João de lhe explicar que me entregava ali naquele estado sem qualquer responsabilidade pelo mesmo. 

No final, fiquei de ressaca ainda antes de me passar a bebedeira, que é das sensações mais horríveis que já tive. E o João? O João perdoou-me. 


quarta-feira, 7 de novembro de 2018

É droga!

A minha prima mais nova foi fazer um mestrado a Barcelona e veio de lá enamorada de um peruano.
Quando contámos à minha avó, a sua primeira preocupação foi o facto de viverem os dois sozinhos em Barcelona e poder dar-se a possibilidade de viverem amantizados que é como quem diz dormirem juntos sem estarem casados. Obviamente que não, explicámos-lhe. Estas alminhas de vinte e poucos anos nunca na vida, nunquinha, iam dormir juntos. Cada um na sua cama, claro está.

A segunda preocupação foi com a fonte de rendimentos de alguém do Peru. Para a minha avó, qualquer pessoa que seja oriunda da América Latina (com excepção do Brasil, vá se lá perceber porquê) vive de negócios ilícitos com estupefacientes. Isto significa que sempre que se fala dele, ela acrescenta ao diálogo a simples frase “é droga!”.

- Mas vó, eu fui à Internet (esse mundo que ela ainda não percebe e claro que eu ia pesquisar o namorado da minha prima, mesmo que ele fosse o meu vizinho de baixo) e vi que a família dele tem posses.
- É droga!
- vi que são socialite do sítio. Aparecem em revistas tipo a Caras.
- aparecem em revistas? É droga!
- os pais dele têm gado.
- têm gado? É droga!
- o pai dele importa carne para a Europa
- e na carne vem droga!

Não vale a pena discutir com ela. Ninguém a convence do contrário, ninguém lhe explica o quão preconceituosa é e nem sequer ouve quando lhe dizemos que é a Colombia a que tem fama de esquemas nessa indústria. Nada feito.

A mim, resta conformar-me com o que acrescenta quando se fala do namorado com o qual, que vergonha!, estou amantizada. “É do PSD.” O que para ela é uma coisa boa. 




terça-feira, 6 de novembro de 2018

Popolo - Pizza & Burguer

Que se pode dizer sobre um restaurante com uma scooter cor-de-rosa em cima de prateleiras?





O Popolo, na esquina da 24 de Julho com a Dom Carlos I é o restaurante mais hipster de Lisboa que já frequentei. As bebidas, chá frio e limonada servidos em frascos de roscas com asa mas sem tampa, o chá com verdadeiras folhas verdes no fundo do frasco, as cadeiras cor-de-rosa, as latas, os doces e os gressinos que enchem as prateleiras, as tábuas engravadas onde vem a comida deixam pouco espaço na minha memória para a comida.




Ainda assim, há que falar na comida. E no conceito de um dos hambúrgueres. O inside out que, tal como diz no menu, “em vez de ter o delicioso queijo cheddar derretido e o bacon estaladiço por cima, tem-nos por dentro...”. Apesar deste “tem-nos por dentro...”, assim, com reticências, me ter desconcertado, fiquei com vontade de experimentar.




Vi-me grega para manter tamanho hambúrguer dentro da tábua. Vi-me grega para beber o chá frio com as folhas. Ando um bocadinho farta destas modas onde a imagem supera o sabor e tenho saudades de um hambúrguer simples, queijo e alface, à moda antiga. E é pena. Ou teria sido se não tivesse sido forçada a ir a este restaurante, pura e simplesmente, por estar na zona, com um grupo grande, sem reserva, com tempo contado e com alguém que conhecia. Provavelmente, de outra forma não teria ido e não saberia que o tal inside out é delicioso e vale a pena cada garfada mal dada e que resultou num “chiqueiro” à minha volta. O chá, apesar das peripécias, também me surpreendeu e, diz quem provou, a pizza também não era nada má. 

Uma visita inesperada com um final feliz. 






Popolo - Pizza & Burger Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato

Para quem falas tu?

Comentador de notícias na internet, diz-me, para quem falas tu? Para os líderes do mundo? Para os visados nas notícias? Para os jorna...