Um dos motivos pelos
quais me apaixonei pelo João foi a sua inteligência emocional. À medida que
íamos falando e nos íamos conhecendo, que me contava a(s) sua(s) histórias,
achava que era alguém muito maduro com uma excelente capacidade de resposta às
suas emoções e às dos outros.
Um dia, ele
contou-me que era adepto do Sporting. Eu não percebo muito mais de futebol do
que saber que há 3 grandes e, achava eu, iam ganhando os 3. E foi aí que
percebi que o meu namorado pode ter a inteligência cognitiva e emocional de uma
alforreca. Contou-me ele que ter amor ao seu clube é ter um amor genuíno,
verdadeiro, que não espera recompensa, isto porque, afinal, o Sporting… não ganha.
Portanto, estou perante o equivalente àquela gaja que se entrega de corpo e
alma à booty call. Ao gajo que não lhe retribui os sentimentos e lhe liga
bêbado, de madrugada, quando lhe apetecem batatinhas.
A primeira vez
que presenciei o João a ver um jogo, descansei. Viu-o pacificamente, não gritou
ao árbitro nem aos jogadores, bebeu um vinhozinho que ainda nos proporcionou uma
prazerosa noite e, pronto, pensei que, pelo menos, era um daqueles adeptos
calmos, racionais, que gosta pelo desporto e coiso. Enganei-me. O jogo não era
importante e, por isso, estava calmo.
A segunda vez que
vimos um jogo juntos (mais ou menos, que eu não vejo nada, fico só ali ao lado
a pensar nas minhas coisas ou a olhar para o telemóvel), por coincidência, foi,
também, a segunda vez que jantei com os seus pais. Foi um drama. Houve portas batidas,
saídas rompantes da sala onde estávamos. A mãe dele ficou com vergonha, eu
fiquei com vergonha, o pai dele tentou explicar-nos que era importante e que se
justificava o comportamento, ele lá ficou com vergonha, umas horas mais tarde,
depois de lhe passar a telha e quando teve que me encarar. Passei a evitar
estar no mesmo espaço físico que ele quando vê jogos e é nestas alturas que
percebo o seu amor ao Sporting. É o mesmo que sinto por ele.
Entretanto,
descobri que o tal rapaz de inteligência emocional acima da média, também é supersticioso.
Só com o Sporting. Deixou de ir ao estádio porque dá azar, veste umas cuecas
especificas em dia de jogo e, a cereja no topo do bolo, não vê os penaltis
feitos pela sua equipa, mas vê os da equipa adversária. O facto de ele estar a
olhar para uma televisão, defende uma bola, num estádio, seja a que distancia
estiver, não estar a olhar, é o que vai permitir ao Bas Dost (as coisas que eu
passei a saber!) enfiar a bola por ali a dentro. É esta rotaçãozinha dos seus
pés, no conforto da sua sala, em Lisboa, que define todas as variáveis do jogo,
do marcador, o guarda-redes, climáticas e “futebolásticas”.
Aqui há tempos,
por azar, estava em viagem na primeira parte dum jogo em que o Sporting marcou.
Na segunda parte, ao ver a coisa dificil, voltou para o carro. E lá esteve até
ao fim. Aquele jogo em que houve prolongamentos e penaltis e tudo e tudo. O
Sporting ganhou e não tenham dúvidas, foi só porque o João foi para o carro.