quinta-feira, 14 de março de 2019

::Pão Pão Queijo Queijo:: Santuario Cucina


Há uma semana tomei uma importante decisão na minha vida. Decidi que toda a minha alimentação vai passar a basear-se na comida italiana. Isto porque descobri que comida italiana é massa, é pizza, é queijo, mas não só. Comida italiana é muito mais que isso.

Como é que ninguém se pergunta porque é que os italianos, com este tipo de alimentação, não são gordos?

Eu descobri a resposta ao aceitar o convite da Alessandra do The Sícula Project para a abertura do seu novo espaço, o Santuário Cucina.  

Ao aceitar este convite, não fazia ideia que estava a aceitar o convite para ir a um dos sítios mais bonitos de Lisboa, para conviver com um grupo de pessoas muito interessantes, empreendedoras e originais e para uma das melhores refeições da minha vida.

 

Passo a explicar, a Alessandra é uma italiana que cozinhou quase toda a sua vida, mas recentemente decidiu dedicar-se a esta sua arte de forma profissional. Tirou cursos, fez workshops e, constantemente, experimenta ingredientes, combinações e temperos. Depois, passa a palavra e ensina tudo isto nos workshops que organiza.  

Veio para Lisboa, bateu a várias portas e acabou a gerir este espaço. O Santuario Cucina onde organiza workshops, supperclubs ou aluga o espaço para eventos. Cozinha incluída.  

Recebeu-me neste espaço minimalista com um cocktail à base de vinho branco. Fresco, leve e bubly. 

 Apresentou-me a várias pessoas. Desde de uma marketeer especializada em gastronomia e que participa no projeto Mulheres com tomates a uma empreendedora que faz sapatos a partir de lixo. E isto é só uma amostra da extensa lista que podia escrever aqui. 

Sentamo-nos todos à volta da mesa e enquanto degustávamos a refeição preparada pela Alessandra, aprendi muitas coisas.

 Aprendi que os italianos comem massa todos os dias, mas nunca nas quantidades que nós comemos. Levam a sério essa história do primo piatto e secondo piatto. E assim, com a massa, comem também legumes e outros ingredientes que tornam qualquer refeição muito mais saudável. Mas fazem-no com uma arte que quase nos faz desconfiar que seja mesmo saudável. Também é raro comerem massa com carne (exceto a bolonhesa) ou com natas. Massa em Itália quer-se com peixe e vegetais. 

A nossa entrada foi composta por “Caponatina siciliana com burrata em cima de um cracker de lievito madre”. Ou seja, uma bolachinha fininha, crocante com uma pasta que levava legumes, pistachios e queijo e que tão bem nos abriu o apetite e a curiosidade para o que mais nos esperava. 






O prato principal foi ravioli com camarões e pistácio com molho creme de limão e gengibre. E eu não sabia que camarão e pistachio podiam tão facilmente distinguir-se ao paladar e tão facilmente criar uma harmonia de sabores que me deixaria a, volta e meia, sonhar e salivar com isto. Era tão bom, tão bom, que quase me fez reclamar desta coisa dos italianos não comerem mais que 6 a 7 raviolis por refeição. 

Normalmente, sou aquela pessoa que odeia fruta em saladas ou qualquer outro prato salgado. Até ter provado a famosa salada siciliana, em que a laranja é a rainha. A rúcula e o creme de sementes e rábano que a acompanhavam, tornaram este prato um deleite para os olhos e para as minhas papilas gustativas.  


Como se já não bastasse este rol de elogios e o fato de já todos estarmos quase a rebolar com toda a comida ingerida, eis que Alessandra nos aparece com um cannolo desconstruído. E já adivinhando alguma resistência, mostrou-nos parte da sua preparação. Isto de nos pôr a ver o chocolate a derreter para completar a taça com creme de ricota e casca de laranja é das melhores ações de marketing que já vi. Era impossível resistir. E ainda bem, ou hoje não conheceria a cremosidade da ricota a contrastar com a bolacha crocante que a acompanhava.

É demasiado bom. 


 Depois disto, mal posso esperar para fazer todos e qualquer workshops da Alessandra e estou muito curiosa com o supperclub que irá acontecer a 11 e 12 de Abril e em que a Alessandra se junta a dois chefs para nos mostrarem o melhor de 3 ilhas, Sardenha, Sicília e Cyprus. Alguém me acompanha? 

Para conhecer melhor este espaço e a agenda dos workshops e supperclubs basta seguir as suas páginas no facebook e no Instagram.






sexta-feira, 8 de março de 2019

Hoje não sou feliz por ser mulher



Gosto que me chamem histérica. Significa que já tenho voz.

Gosto que me digam que a minha roupa é inapropriada. Significa que já posso escolher o que visto.

Gosto que me chamem de leviana. Significa que já posso decidir a minha vida sexual.

Gosto que me tentem explicar política como se eu fosse muito tontinha. Significa que já posso votar.

Gosto que tentem aconselhar-me profissionalmente. Significa que já tenho opção de escolha.

Sou uma privilegiada e, por isso, hoje não quero comemorar.

Gosto de todos estes direitos que alguém conquistou por mim e dou por garantidos. Não gosto quando me criticam por gozá-los. Seja para emitir uma opinião que muitos outros privilegiados nunca vão entender, seja por vestir uma roupa que não se encontra dentro dos moldes da minha sociedade.

Não gosto quando percebo que nem todas as mulheres do mundo usufruem destes meus direitos. Não gosto quando ainda se educam mulheres para se subjugarem à vontade de um homem. Não gosto, como descobri recentemente, que ainda se mutilem genitalmente meninas, mesmo à frente do nosso nariz, mas nesse mundo distante que são os bairros sociais.

Não gosto que não se perceba que a violência doméstica é uma questão associada à identidade de género porque se perpetuam ideias misóginas que levam homens a acreditar em propriedade e honra e outras merdas que os levam aos números que hoje conhecemos.

Durante muitos anos, não gostei que me chamassem feminista porque também eu vivia nessa ignorância de achar que feministas são aquelas que não aceitam as diferenças biológicas que a natureza nos deu. Hoje, não gosto que me chamem de feminista porque sou uma privilegiada que não está na linha da frente desta luta.

Não gosto de jantarinhos de mulheres, de receber flores ou que digam que aquele que escolhi para meu parceiro nestes meus direitos, hoje, tenha de cozinhar para mim. Hoje não sou feliz por ser mulher. Sou triste por todas aquelas para quem ser mulher é uma desvantagem.

Para quem falas tu?

Comentador de notícias na internet, diz-me, para quem falas tu? Para os líderes do mundo? Para os visados nas notícias? Para os jorna...