quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

É só Natureza. Humana e não só.




Um dia a tua avó vai contar-te a história da carochinha. Vai convencer-te que aquele, o da carochinha, com o tostão, à janela, é o teu objectivo de vida. Convence-te que só te sentirás completa no dia que procriares em relação duradoura.


Um dia, vais desconfiar da tua avó. Vais achar que há outras coisas, vais querer estudar, realizar-te num trabalho das nove às seis, vais querer estar com os amigos. E vai chegar-te.


Noutro dia, sem que o descubras, vais ter o teu corpo a produzir hormonas, dopaminas, estrogénio e vais sentir um cabrão de um instinto que te fará partir em busca do macho alfa. O coktail de hormonas far-te-á sentir feliz, ou triste. Lê Fernando Pessoa só para poderes descrever poeticamente essas sinapses do teu corpo. Apertos no peito, falta de ar, vais flutuar ou vai doer. Imensamente. As putas das hormonas convencem-te que o mundo vai parar.

De caminho, lê o Francesco Alberoni e a ciência do amor e procura no Google esses estudos brasileiros que comprovam toda e qualquer teoria. Só para validar a verdade que mais te convém. 


Quando as hormonas te atacarem, não te vai servir de nada. Não saberás o que é dopamina, não saberás que é o instinto e vai doer de igual modo, como se não houvesse amanhã. Mas dar-te-à jeito quando fores para os copos com os amigos. Fazes um brilharete, convences que tens uma inteligência emocional do camandro e ocultas a espiral em que estiveste na véspera. 


Mais importante, quando a coisa acalmar e te toldar menos a vista, vais-te lembrar que isto é só Natureza. E nem sequer é só humana.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

::Pão Pão Queijo Queijo:: Taberna Anti-Dantas




À Taberna Anti-dantas tudo se perdoa. PUM! E são dois os motivos.

Porque aqui respiram-se jornais e revistas do início do século. A começar pelo nome, uma alusão ao manifesto anti-dantas escrito por Almada Negreiros como reação às críticas à revista Orpheu que, pela novidade e arrojo para os seus tempos, causou escandalo junto da burguesia lisboeta conservadora e a acabar nas paredes forradas, inteiramente de páginas de revistas antigas.

Isto, aliado a outros fatores de decoração vintage atribui-lhe um ambiente místico no qual sabe bem estar ou até, dando asas a uma certa capacidade de abstração, sabe bem fazer parte. 


Se isto não fosse suficiente para perdoar os peticos que, não sendo maus, em nada acrescentaram ao nosso conhecimento gastronómico e de paladares, a tarte de limão merengada serviu para nos fazer esquecer qualquer falha. Ouso dizer que esta foi a melhor tarte de limão que já provei. Do frágil equilíbrio entre a acidez do limão e o açúcar do limão à leveza da massa de base, esta tate roçou a perfeição.


Desconfio que se nos tivéssemos aventurado pelos pratos principais seriam ainda mais os motivos para desculpas, a julgar pelo aspecto dos ditos e pelas caras dos seus comensais.

Mas nós ficámo-nos pelos espargos gratinados com presunto, cogumelos à bulhão pato, tiborna de polvo, mexilhões à bulhão pato e o camembert com mel e croutons e a verdade é que se comiam bem, mas aos mexilhões por exemplo, faltava-lhes sabor e molho que os tornasse menos secos. A tiborna de polvo era composta por 6 fatias de pão com rodelas de batata cozida com casca, sendo 3 com polvo em molho de tomate que conseguia ter um sabor ligeiramente mais interessante que os outros 3, pouco temperados e também algo secos. Os cogumelos eram bons, mas, na minha opinião poderiam ter um sabor mais vincado que fizesse mais jus ao nome Bulhão Pato e os restantes pratos levam queijo gratinado, não tinham como falhar.



Entenda-se que nenhuma destas comidas era má, apenas tinha apontamentos a melhorar e é por isso que não me sinto já pronta para desistir dele e pretendo voltar. Nem que seja pela sobremesa que foi acompanhada por shots de chocolate com vinho do Porto e vinho da Madeira ou mesmo só pelo ambiente. Esse sim, a valer muito a pena. PIM!
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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

::Ler para crer:: “Princípio de Karenina” de Afonso Cruz


Nunca tinha lido nada de Afonso Cruz e a minha primeira impressão é que tudo o que escreve é sobretudo muito bonito. A forma como descreve situações ou espaços é, seja ela mais mundana ou mais profunda, sempre muito bonita. Uma escrita que não é leve, mas que confere uma leveza à história e a reflexão a que nos obriga.

“O som do Outono ouve-se com os sapatos. Quando as solas partem as folhas secas das árvores”


Todo o livro é uma carta de um pai para uma filha. Uma carta que conta toda a vida desse pai. Uma infância que explica o comportamento em adulto. Uma deficiência física que espelha a deficiência espiritual. E o desenrolar dessa história e a explicação para o afastamento ente este pai e esta filha.

Vi todo o livro como hipérbole de uma condição humana. Uma crítica talvez. A descrição exagerada daqueles que sendo coxos de espírito, gostariam de ter no amor uma conveniência que os mantivesse na sua zona de conforto. Só que, não saindo do mesmo lugar, qualquer zonas se torna desconfortável e o amor, esse, é, simultaneamente, inconveniente e inevitável.

"A ordem não me fazia diferença. Ou melhor, fazia. Eu podia ser o milésimo, desde que fosse o primeiro, o único. Isso não refletia uma ordem cronológica, mas quantiosa. Eu não queria ser o primeiro, queria ser o mais importante. Não tinha nada que ver com ordem, como, aliás, nunca tem. O amor não obedece a esse cromatismo do tempo, um dia a seguir ao outro, dá saltos como uma gazela do cântico dos cânticos e, por incrível que pareça, vai a direito, como quem dança”


Se por um lado adivinhamos-lhe essa sina da paixão que não pode evitar, por outro, o final, o caminho por onde o medo do amor, do desconhecido, do arrependimento, leva a personagem principal, é absolutamente surpreendente e, só por isso, este livro é um pouco mais que só feito de palavras bonitas.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

::Pão Pão Queijo Queijo:: Nosolo Itália


O Nosolo Itália é daqueles sítios que me remete para tempos de verão e adolescência. Quando éramos miúdos, era nosso apanágio ir à Bella Itália, na Marina de Vilamoura só para comer o famoso crepe Bella Itália. O Crepe Bella Itália é um crepe grande, cheio, daqueles que alimentam a vista antes de o paladar e a barriga.

A Bella Itália mudou para Nosolo Itália, expandiu-se para outras localizações e ficou-nos o hábito. Não há ferias no Algarve que dispensem este nosso ritual.

Felizmente, a expansão e a idade permitiram-nos experimentar muito mais e, se possível, fazer crescer este amor de infância para a vida adulta com a sua sangria, as suas pizzas, as suas massas.

Gosto. E gosto ainda mais da vista que passou a proporcionar-nos em Belém.

Ir ao Nosolo Itáliaem Belém não é tarefa fácil. A localização aliada à qualidade, faz com que, ao fim de semana seja mesmo impossível sentar sem passar umas boas horas na fila. A mim, dá-me vontade de dar abraços a quem fica encarregue dessa tarefa de apontar nomes e gerir as mesas, tal a confusão e, muitas vezes, má educação a que tem de se sujeitar. Não é tarefa fácil a de ter de lidar com uma série de pessoas esfomeados a babar pela vista e pelas iguarias.

Não vou mentir, agora que não ligo tanto ao crepe, um dos principais motivos pelos quais continuo a voltar é a sangria. Uma sangria leve, saborosa e doce cuja frescura acompanha a brisa à beira-rio. Pode pedir-se a copo, o que é sempre uma mais valia para quem tem namorados com medo que lhes caiam os parentes na lama se não beber vinho de primeira. Só que em vez de um copo, vem um balde que permite ao álcool uma leve subida à nossa cabeça.







Já fui viciada na massa Bella Itália, uma massa com camarão e piripiri. Uma receita tão simples, onde o camarão é rei, mas o picante também se faz sentir e massa complementa. Não há dúvidas que a herança da minha tão querida Bella Itália não deixa a desejar.

A pizza bolonhesa é, como o nome indica, uma pizza com carne picada e queijo. A carne está bem confecionada e temperada e a massa… a massa é a massa da Nosolo. Fina e leve, tal como eu gosto.




Tanto em Vilamoura como em Lisboa, considero este um restaurante bastante em conta tendo a localização e os preços por ali à volta. A vista também se paga. E vale a pena.
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domingo, 17 de fevereiro de 2019

::Dar o corpo ao manifesto:: A verdadeira causa do trânsito infernal em Lisboa

Desengane-se quem acha que o problema do trânsito em Lisboa é a quantidade de carros em segunda fila ou os acidentes parvos ou, simplesmente, o facto de a cidade receber muito mais carros do que a capacidade que tem. Nada disso.

A culpa é minha. Minha e de todos os que conduzem como eu. Estou a pensar criar um grupo de auto-ajuda para conseguirmos resolver este nosso problema tão maléfico para a sociedade em geral e o trânsito em Lisboa, em particular. Nesse grupo, partilharíamos as nossas recaídas e tentaríamos, de forma solidária, encontrar soluções para este nosso problema. “Olá, o meu nome é Rebeubeu e hoje distraí-me durante 2 segundos e não avancei quando o semáforo estava verde”. Ou parei num sinal amarelo em segurança ou parei num stop, em vez de abrandar e seguir caminho ou, ultraje dos ultrajes, dei prioridade à velhinha que estava há meia hora a tentar meter-se no cruzamento.

A culpa é minha e mereço todas as buzinadelas e todos os nomes que me chamam. 
Eu sei, eu percebo-vos, estar dentro de um carro é horrível. Eu também não gosto. Todos os segundos contam. Quem sou eu para causar tamanha fatalidade nas vossas vidas. Quem sou eu para cumprir limites de velocidade e levar-vos a essa desgraça sem precedentes, a de chegar a casa 20 segundos mais tarde. 

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

::Dar o corpo ao manifesto:: O mundo foi feito para dois




Quer queiramos, quer não, o mundo foi feito para dois. Podemos ir ao cinema com amigos, jantar fora com amigos, embebedarmos com amigos. Podemos fazer mil e uma coisas com amigos ou mesmo sozinhos, mas não todas.


As camas são de casal, as fronhas vêm aos pares, os pacotes Odisseias são para dois, as promoções são pague um leve dois e a hipoteca, por mais pequenina que seja, devia ser dividida. As nossas amigas, quase todas emparelhadas, gostam de fazer férias com outras emparelhadas ou fazem-nos pagar o dobro pelo raio do quarto. Suplemento individual, quando uma pessoa suja muito menos se estiver sozinha. Até para fazer dieta é necessária actividade a dois, que sozinha finge-se muito menos que é o que queima mais calorias.


Sou uma solteira assumida há alguns anos. Já passei pelas fases de negação todas. O desgosto, o “não preciso”, o “agora ando concentrada nisto ou naquilo”, já tive aquela relação que só começa às 11h da noite de um qualquer sábado, já me convenci que sou especial e ninguém me entende. Já passei por um bocadinho de tudo. 


Não sou infeliz, não ando à procura (mas  já andei), mas também não me importava.


Post escrito nos meus tempos de solteira.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

::Pelos cotovelos:: Se não me tivesse casado




“Se não me tivesse casado, hoje seria médica.” Ou escritora. Ou educadora de infância. Ou professora. Cada dia tem uma vocação diferente. Depende da necessidade do dia ou daquilo em que se sentiu útil. Hoje é dona de casa. Sempre o foi. Diz que foi porque escolheu casar, em detrimento de todas essas coisas que poderia ter sido.



Nunca se senta ao mesmo tempo que nós à mesa. O número de pratos diferentes que cozinha é quase igual ao número de comensais que estiver em casa. Uma omelete para um, frango para outro, peixe para o que não come carne, bacalhau com todos para ela. Isto ao ao almoço porque ao jantar chega-lhe uma chávena de chá e uma banana, porque uma mulher tem que manter a linha. Só come quando já todos estamos a terminar e interrompe, sempre, a sua refeição para fazer o café ao lume do fogão para os que já terminaram.

Se não se tivesse casado, não seria assim. Não seria cozinheira, com certeza. Não trataria da casa. Mas não teve escolha. “O namoro”, como costuma contar, começou aos 12 e ditou-lhe a sentença. “Naquela altura era assim”, certifica. Não se mudava de namorado e ou se estudava ou se casava. Ou se casava ou se trabalhava. E ela que podia ter sido enfermeira. Seria tão boa enfermeira. Ou escritora. Ou educadora de infância. Ou professora.  73 anos de uma má escolha. 73 anos de uma escolha feita por uma criança. Infantil, inocente, ingénua.



Esta é a história da minha avó. Uma história, como tantas outras, que impactaram as gerações futuras. Uma história que mostra como o Estado novo ainda impacta a atual geração. A minha.

É nos completamente impensável nos dias de hoje poder deixar de ser alguma coisa porque casámos. Parece ser igualmente impensável poder deixar de ser responsável pela casa, os filhos, a comida.

Podemos ser aquilo que quisermos, mas temos de ser mães. Podemos separar-nos, mas não podemos ser solteiras. Podemos trabalhar, mas temos de gerir uma casa. Podemos ter empregada, mas temos de a orientar. Podemos ocupar lugares de homens, mas comordenados de mulher.

Ganhámos uma liberdade disfarçada de obrigação. Ou ganhámos uma obrigação disfarçada de liberdade?  

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

::PÃO PÃO QUEIJO QUEIJO:: Restaurante La Siesta



Uma das viagens que mais me marcou foi a viagem ao México. 
As cores, as engenharias, a simpatia, a comida, as margaritas. Este é um claro caso em que não se sabe quem nasceu primeiro, se o ovo ou a galinha. Não sei se as experiências que tinha tido no Siesta influenciaram a escolha do destino, se continuei a ir por encontrar aqui, neste cantinho à beira-mar em Algés, um pedaço daquilo que vivi nas duas semanas que passei na Riviera Maya.


Dêem-me queijo, dêem-me picante, dêem-me margaritas e sou uma mulher feliz. 

Gosto muito, mas mesmo muito, de comida mexicana quando esta é bem confeccionada e fiel às suas origens, como é o caso da comida servida no Siesta. E casos destes, que não sucubem ao gosto e vontade europeu, são caso raro. 

No Restaurante Siesta, logo à chegada, são nos servidos Totopos e Salsa Roja Picosa, que é como quem diz aqueles triângulos a que erradamente chamamos de tortillas e salada de tomate com cebola e chili que abrem já o apetite para aquilo que se segue. 




No meu caso, o que se segue é quase sempre o mesmo. Gosto tanto tanto que ainda não consegui provar o resto do menu. 

Aconselho vivamente, ainda como entrada, o queso fundido com cogumelos, o qual não sobreviveu tempo suficiente para a foto, de tão bom que aquilo é. Basicamente, é uma tortilla recheada com cogumelos que vem ainda acompanhada de um maravilhoso e cremoso guacamole e mais uns triângulo de milho. 

Como prato principal, costumo oscilar entre os Taco Loco ou, um pouco menos usual entre outros comensais, a Pechuga en Cuitlacoche. 
Se o primeiro nos permite comer até com os olhos, o segundo já não é tao interessante à primeira vista. Pechuga é peito de frango, Cuitlacoche, segundo me explicaram, é uma pasta de milho com a qual o frango é recheado. Não sei bem o que é, mas é delicioso e combina muito bem com a montanha de queijo com que o frango é gratinado e que, por sua vez, combina ainda melhor com a pasta de feijão de aspecto “estranho” que acompanha o prato. É capaz de ser o prato mais feio que ali é comfeccionado, mas... é o meu preferido. Nada a fazer. 


Os Tacos Locos são compostos por duas tortillas recheadas com tiras de lombo de vaca, feijão frito, alface, queijo e guacamole. Aqui, tenho que destacar os jalapeños (chilli) recheados de queijo e panados. Fritos picantes são o meu ponto fraco e foi por saber deste acompanhamento que um dia resolvi atirar-me aos tacos. 

É muito raro comer sobremesa. Não acho que seja o forte da comida mexicana, por isso, prefiro dar essa espaço a mais salgados ou, neste caso, picantes. A barriga nunca me chega para tanto. 

Já experimentei outros restaurantes mexicanos, tanto em Lisboa, como noutros pontos da Europa. No final, não houve nunca margem para dúvidas. O Siesta é o meu preferido.

Não sendo um restaurante muito barato, aconselho que se experimente ao almoço, durante a semana, em que servem 3 menus bastante em conta, ou a utilização do Zomato Gold que permite que o segundo prato principal seja oferecido. Compensa. 


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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

::EM CENA:: Fyre



Segundo o dicionário, idiota é alguém que carece de inteligência ou alguém pretensioso e vaidoso. 
A sabedoria popular, ultimamente, chama também de idiota aquele que tem muitas ideias.

O documentário Fyre dá-nos a conhecer alguém que encaixa nas 3 definições. 
Fyre foi um festival que se auto proclamava luxuoso. Que foi publicitado como um evento sem precedentes e difícilmente igualável. 

A ideia é gira. Os melhores concertos, numa paisagem idílica, com as mulheres mais bonitas. Um preço que poucos poderiam pagar numa ilha associada a Pablo Escobar com tendas de luxo. 

Toda uma campanha feita através de influencers que facilmente captou a atenção um pouco por todo o mundo.

Um festival que se revelou desastroso. 

No fundo, este documentário mostra como uma boa ideia não chega. É preciso concretizar. Podia chamar-se como destruir uma boa ideia em 12 passos, já que nos mostra como, erro após erro, sempre acompanhado por um optimismo que soa a arrogância, se transformou aquele que seria o festival da década, num verdadeiro pesadelo para quem comprou bilhete, quem ali trabalhou e quem investiu.  

Vale a pena ver para perceber a logística, o marketing e o negócio dos festivais e porque é tão fácil tudo isto falhar. 




segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Pão Pão Queijo Queijo - Pizzaria Gordo Chic


Sobre comida mesmo muito muito boa, a história não reza. Pelo menos na minha casa.
Isto porque, nesta era digital, dizem os entendidos que se não há foto, não aconteceu e na minha casa a gula pode ser tanta que não há cá tempo para a fotos.

Foi o caso das 6 pizzas que encomendámos nas últimas 2 semanas à Pizzaria Gordo Chic.
esta pizzeria surge na nossa vida por acaso e a meio de uma dieta que imediatamente foi por água abaixo.
Não nos apetecia cumprir a dieta, não nos apetecia cozinhar e não nos apetecia mais do mesmo.

Nunca tinha ouvido falar em pizzas brasileiras, mas atraiu-me aquele ar de pizza alta, gorda e cheia que vi nas fotografias. Arriscámos e arrependemo-nos quando percebemos que depois disto nunca mais vamos fazer dieta. Vamos ser gordos, mas felizes. Tão felizes.
Aparentemente, a pizza brasileira é feita com massa alta e o rebordo é recheado com queijo creme.

Pedimos duas pizzas, uma de quatro queijos e uma bolonhesa. Foi assim que fizemos a descoberta incrível de que gostamos os dois de pizza bolonhesa. Eu não sabia porque nunca o vi pedir, ele não sabia porque tem a atenção aos meus detalhes de uma alforreca, porque eu já comi pizza bolonhesa ao lado dele mais de 10 vezes. Nisto das relações está-se sempre a aprender, até com comida.

Arrependemo-nos um bocadinho de pedir duas pizzas, porque, apesar de sermos pessoas de bastante alimento, as pizzas são deliciosamente pesadas. Bem recheadas, massa densa. A verdadeira confort food da qual acabámos por disfrutar durante três refeições.
Depois disso, já encomendamos mais 3 vezes, as duas últimas já tendo o cuidado de pedir apenas uma, quantidade mais que suficiente. Ficámos viciados.

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sábado, 2 de fevereiro de 2019

Um pedido de desculpa





Cara vítima,

Esta semana falámos muito em ti. 
Falámos em ti enquanto jovem de 20 que foi alvo de uma tentativa de violação e uma violação por dois elementos de uma banda de música.
Falámos em ti numa reportagem da Sic, “Crime, Silêncio e Preconceito”, sobre duas mulheres sobreviventes de violação.
Falámos em ti noutra reportagem da Sic, “A Rede”, enquanto vítima dos perigos das redes sociais. 

Nenhum de nós ficou indiferente à tua história, aos detalhes revelados, à vida que tinhas antes ou ao momento em que foste vítima. Nem todos te vimos como vítima.

Devemos-te um pedido de desculpas. Esta história não devia ser sobre ti. Não interessa que vida vivias, o que tinhas vestido ou a tua ingenuidade. Devemos-te um pedido de desculpa por não sermos, ainda, uma sociedade suficiente evoluída para perceber que o foco, o julgamento e o dedo apontado não deveria estar na tua direção, mas na do agressor. Devemos-te um pedido de desculpa por, tal como o teu agressor, termos utilizado a tua vulnerabilidade para nosso entretenimento.

Devemos um pedido de desculpa a nós próprios por, enquanto sociedade, não sermos suficiente evoluídos para perceber que o teu lado é o certo e que não és tu quem tem que prever aquilo que uma mente retorcida pode fazer. 

Enquanto não percebermos que a um agressor não importa o que tens vestido, mas sim a tua vulnerabilidade; enquanto não percebermos que para um agressor não importa onde estás, mas sim o seu poder sobre ti; enquanto não percebermos que para um agressor não importa se és ingénuo, mas sim a capacidade de te manipular, não conseguiremos nunca evoluir enquanto sociedade.

Enquanto te perguntarmos o que tens vestido ou porque foste lá ou porque confiaste ou porque acreditaste, não teremos a capacidade de perceber onde está o erro e como o podemos corrigir. Precisamos de perceber as razões de quem o fez, as motivações de quem o fez e o que despoletou quem o fez. Porque quem o faz, fá-lo hoje e fá-lo amanhã, tenhas tu um decote ou uma gola alta, tenhas tu lá ido ou tenham-te procurado, tenhas tu acreditado numa história ou na outra. 

Devemos-te um pedido de desculpa e devemos um pedido de desculpa a nós próprios porque ainda não percebermos: a culpa não é da vítima

Para quem falas tu?

Comentador de notícias na internet, diz-me, para quem falas tu? Para os líderes do mundo? Para os visados nas notícias? Para os jorna...