Em criança, Rebeubéu dizia que queria ser cantora de ópera. Nunca cantou, nunca tentou cantar, mas achava já que poderia ser, simplesmente, o que lhe apetecesse. O expoente máximo do desafio do trabalho ao talento.
Ainda hoje deseja que assim o seja. Fazer o que lhe apetece. Trabalhar com prazer, comer sem engordar, gastar dinheiro sem o contar.
Sempre foi uma eterna romântica. Ficou muitos anos solteira, não por não acreditar. Por acreditar demasiado. Acreditava nesses amores maiores que se fazem esperar. Ensinara-lho Gabriel Garcia Marques, no livro que tantas vezes leu e releu. Não gostava de Firmino, a personagem principal. Desagradava-lhe a forma como se entretinha de forma fútil e superficial com tantas outras mulheres, mas enternecia-a esse final, o da espera que compensava. O do amor maior.
Talvez essa espera ou talvez as crenças, fizeram de si uma piegas. Uma lamechas. E esse, esse é o seu maior segredo. Como se esse segredo a despisse, vulnerável ao preconceito.
Talvez essa espera a tenha desnorteado. Talvez tenha sido só a vida a fazê-lo. Chegou aqui sem saber como. Ela, que em miúda, queria cantar ópera e não chegar a adulta. Acima dos 25 anos já todos eram velhos. E hoje, a 342 dias de fazer 40, não acredita, não se revê. Falta-lhe menos de um ano, mas ainda tantos dias. Os suficientes para acreditar que o tempo vai parar e que nunca será tão “velha”, mas será um dia, tudo aquilo que lhe apetecer.
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