quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Casados à primeira vista ou a arte de bem pedir



Casados à primeira vista para quem não sabe é um programa de televisão que passa na Sic, onde pessoas aceitam casar e viver maritalmente durante 8 semanas com alguém que nunca viram na vida. Supostamente, os pares são selecionados com base na ciência e algoritmos que dizem que aquelas pessoas são uma boa dupla juntas. As 8 semanas de convívio são para se perceber que desafios enfrentam duas pessoas casadas e como os ultrapassam. Tudo isto é feito com o acompanhamento de uns tais de especialistas que analisam as pessoas pra poder usar a tal ciência que diz que um casal é compatível e que, depois, darão apoio nos tais desafios que vêm desse convívio. Esta é a premissa. Pessoas que procuram o amor e se apoiam na ciência para o encontrar.

Todas as semanas os casais têm uma cerimónia chamada de compromisso, onde falam sobre os desafios encontrados e se querem ou não continuar a viver a experiência ao lado da pessoa que a ciência definiu como o seu par ideal. Se as duas pessoas escolherem terminar, acaba-se o casamento, saem do programa e divorciam-se. Se apenas uma pessoa escolher terminar e a outra não, o casal têm que continuar a viver o desafio.

A oitava semana já não é de convívio, mas sim de reflexão. Os casais separam-se para poderem decidir se depois de 7 semanas de convívio querem continuar com aquela pessoa e, neste caso, para assinalar a decisão de ficarem juntos longe das camaras, renovam os votos.

Neste momento, é neste ponto que o programa está. Alguns casais já saíram, outros vão decidir se querem continuar casados.  

Já tinha visto a versão australiana, a neozelandesa (fraquinha) e a espanhola (os espanhóis partem a loiça toda).

A versão portuguesa é um bocadinho melhor que a neozelandesa, mas fica muito aquém da versão australiana. Na versão australiana, por esta altura, das duas uma, ou já tinha havido drama até dizer chega e já só havia metade dos casais ou os casais já estavam a discutir qual dos dois se mudava para ficarem juntos. Parece-me que a coisa por lá é mais intensa, mais levada a sério e com mais conteúdo que cá, que vemos e revemos a mesma coisa vezes sem conta. Irrita-me quando mostram imagens do “não perca já a seguir” que afinal era mesmo só aquilo e já está visto.

Outra coisa que me faz espécie na versão portuguesa é a quantidade de vezes que se ouve uma parte dos casais a falar do que pediram. “Eu pedi uma boazona”, “eu pedi que não fosse um trambolho”, “eu pedi uma pessoa calma”, “eu pedi um homem lavadinho”. Fico com a sensação que aquelas alminhas pensam que a ciência é isso. Enumera-se o que se quer, faz-se uma listinha “magro”, “gordo”, “loiro”, “moreno”, “simpático”, “sério” e a tal da ciência e dos especialistas servem para encontrar uma pessoa com essas características. A avaliação da personalidade a que os especialistas os submeteram era só para inglês ver.

Não me espanta, portanto, que mesmo aqueles que acham que o programa lhes “deu” exatamente o que “pediram”, não se encontrem satisfeitos. As pessoas são muito mais e muito mais complexas que uma lista de características. E eu acho que isto, de certa forma, reflecte um bocadinho aquilo que as pessoas esperam de uma relação mesmo que esta não seja baseada na ciência, mas sim no acaso, como (quase) todos nós. Ninguém fala do que pediu porque não há cá nenhuma entidade superior a receber pedidos e a usar algoritmos, mas fala-se muito do que se queria, do que se idealizou, do que nos fazia falta. Contra mim falo, que volta e meia, também me queixo que queria alguém que trabalhasse menos, que ajudasse mais em casa ou que largasse o telemóvel. Só assim de vez em quando.

Nisto das relações não há características mais ou menos compatíveis. Há pessoas. Que são um todo. Que trazem bagagem, ideias, ideais, histórias e estórias. A vida prega-nos partidas e, às vezes, calham-nos pessoas com aquela qualidade que achávamos impensáveis para nós, mas que, no final, são muito mais que isso.

domingo, 2 de dezembro de 2018

Custo de vida


Desde que voltei da Irlanda que a minha reação ao preço das coisas em Portugal tem variado entre a surpresa e o choque.
Dei pulinhos de contente quando percebi que é possível comprar cerejas por menos de 20euros/quilo, tive um choque quando percebi que o preço do frango não acompanha a diferença de ordenados. 
Regra geral, quando as pessoas me perguntam qual a diferença, costumo dizer que o que sinto realmente a diferença é nos luxos. Jantar fora, beber álcool, fumar, comer carne do lombo. Estas são as coisas que efectivamente são mais caras na Irlanda. Há excepções, a fruta é toda importada e, por isso, muito mais cara. Os seguros automóvel. As rendas das casas. De resto, bens de primeira necessidade são tão ou mais baratos que em Portugal. 

Estudei fiscalidade na faculdade e foi isso que nos ensinaram relativamente ao IVA. As 3 taxas que temos actualmente diferenciam o grau de necessidade de consumo. Bens de primeira necessidade seriam menos taxados. Na altura, porque aprendemos só a teoria, ninguém nos falou em lobbys e outros interesses. As regras eram estas. 

Na Irlanda, o racional também era este e havendo outras nuances, ou não, é isso que se sente na factura. 

Posto isto, discussões sobre se deveriam existir ou não., à parte, (tema sobre o qual tenho opinião bastante formada, mas que não cabe neste blog), a minha pergunta é só uma. São realmente as touradas um serviço de primeira necessidade que justifique uma taxa de IVA a 6%?

Para quem falas tu?

Comentador de notícias na internet, diz-me, para quem falas tu? Para os líderes do mundo? Para os visados nas notícias? Para os jorna...