segunda-feira, 30 de julho de 2018

Era para isto?

Desde que namoro com o João, há coisa praí de um ano que leio muito menos, oiço muito menos podcasts e ultrajes dos ultrajes, durmo muito menos e já acordei a meio da noite a dizer que o melhor é sermos daqueles casais que vivem em casas separadas (Normalmente o amoque passa-me de manhã). Acho relevante explicar que, antes de namorar com ele, trabalhava que me desunhava. Saía tarde. Uma vez em cada três meses, trabalhava aos fins-de-semana. Ainda saía com amigos. Passava bastante tempo em casa duma vizinha. Via tantas ou mais séries das que vejo com ele E, ainda, tinha tempo para esses meus prazeres todos. 

Agora, estou desempregada. 

Ou seja, isto de namorar dá muito mais trabalho que trabalhar em finanças numa multinacional americana. 

Era por isto que as pessoas inclinavam a cabeça em comiseração sempre que lhes dizia que não tinha namorado? É isto? É isto que tanta falta me fazia? 

Mas depois, nos dias em que nos corre tudo mal, que o carro dele é rebocado, que eu chego a casa a chorar por causa do trabalho, a cadela fez chichi dentro de casa ou tivemos uma discussão por causa de uma qualquer parvoíce, ele estende-me a mão e diz-me, “vai correr tudo bem” . É aí que eu entendo.  


sábado, 28 de julho de 2018

Burger Factory sem burgers


Quem é que vai a um restaurante com Burger no nome e não come hambúrgueres? Eu.
Foi só uma coisa que aconteceu. 

Quando um começámos a ver o menu, uma disse que gostava muito de nachos, outra que gostava de croquetes, outra que queria mesmo aros de cebola. “Ai credo que ninguém tem barriga para isto tudo.” O empregado, muito simpático, informou-nos, “Ninguém vos obriga a comer hambúrgueres”. E assim foi, uma entrada para mim, outra entrada para ti, qual Oprah das entradas, “ENTRADAS PARA TODA A GENTE”. 

Não nos arrependemos. Adorámos até à última migalhinha. Viemos cheias que nem perus e acompanhamos isto tudo com uma sangria de frutos vermelhos que já valia por tudo o resto. D-E-L-I-C-I-O-S-A. 

Burger Factory Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato

Experiências

A próxima vez que nos perguntarem porque não queremos ter filhos vou responder que somos primos e temos medo do que saia.

terça-feira, 24 de julho de 2018

Restaurante Mariscador e uma grande mariscada


Não consegui tirar muitas fotografias. E porquê? Porque a certa altura veio uma espécie de cabaz de marisco para a mesa e eu larguei tudo e atirei-me aos percebes como se não houvesse amanhã. E não havia. Nunca se sabe quando se vai voltar a ter a oportunidade de comer bons percebes, outra vez. Eram bons. Aliás, neste restaurante situado no Campo Pequeno não nos pudemos queixar da qualidade da comida. As expectativas eram baixas, dadas outras opiniões que tinha já lido, mas a verdade é que o restaurante pode ter muitos defeitos, o serviço precisa de melhorar, o preço não é dos mais simpáticos, mas a comida é boa. 

O couvert, cortesia da casa, era composto por pão, um queijinho que acho que ninguém chegou a provar e uma manteiga de algas servida dentro da casca de uma ostra. Não fiquei muito fã da manteiga, mas os outros comensais não deixaram pitada para a amostra. Trazia também camarões de rio estaladiços. Não sei bem como serão confecionados, sei que são mesmo estadiços, fazendo jus ao nome que lhes é dado no menu: "Camarinhas a estalar "O nosso tremoço"". A mim, fez-me lembrar a comida que se dá às tartarugas. Não desgostei, mas fez-me um bocadinho de impressão.



Como entradas pedimos os croquetes de toiro, as buchas de sapateira (normalmente vêm 5, neste caso, tiveram o cuidado de trazer 6 para que todos pudéssemos provar. Um ponto para o serviço). Adorei as duas coisas. Sobre os croquetes não há muito mais a dizer senão que se parecem, à partida, normais, na boca são só dos melhores que já comi. As buchas de sapateira parecem ser compostas por caquinha de sapateira em cima de filhoses salgadas. E a combinação resulta. 


Seguimos para uma "teca de marisco", uma caixa de madeira, o tal cabaz de que falo em cima, cheia de marisco. Sapateira, ostras, percebes, lagostins, búzios, camarões e etc. E isto valeu por tudo o que de mau poderia ter havido. Comemos, comemos, comemos e adorámos. 

Para complementar, pedimos também mexilhão. Tinha tomilho e eu que adoro mexilhão (gosto mesmo muito de marisco) não vou à bola com tomilho. Não gostei, mas é mesmo uma questão de esquisitice minha. Toda a gente gostou.

Tivemos um vislumbre de uma das sobremesas. A caixa das sete saias. Uma caixa a honrar uma tradição Nazarena que traz bolas de Berlim, pasteis de nata, arroz doce, leite creme e mousse de chocolate. Já não conseguimos. Corríamos o risco de ter que voltar para casa a rebolar e ali no Campo Pequeno não nos dava jeito. Tem muito transito.

Achámos que o serviço poderia ter sido um pouco menos lento e permitir-nos ter, simultaneamente, pão torrado e a casquinha de sapateira. Ter que esperar pelo pão foi um bocadinho tortura. E é por isso que não lhe dou 5 estrelas.








O Mariscador Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato

quinta-feira, 19 de julho de 2018

A minha rua

A minha rua é aquilo que se pode chamar de rua de conveniência. É-me conveniente em vários aspectos. Ou assim mo dizem. Começa por ser conveniente só pelo facto de ser onde o apartamento da cara metade está situado. Quando começámos a namorar vivíamos os dois em casa dos pais (e não foi assim há tanto tempo), surgiu a oportunidade dele voltar para esta casa e eu, convenientemente, fui ficando. Dizem ser também conveniente a sua localização. Centro de Lisboa, perto de tudo, boca de metro mesmo ali. Pouco conveniente é o número de degraus dessa boca. Pouco conveniente é também o número de lugares para estacionar. Mas disso ninguém fala. 

A minha rua não tem nada de especial. Nunca vivi noutra rua de Lisboa, mas não lhe vejo particular encanto. À partida. 

À partida, é uma rua cinzenta. Um borrão como tantas outras ruas de Lisboa. Mas se olharmos com atenção os prédios até são coloridos. O que a torna cinzenta é este triste hábito dos portugueses de deitar lixo para o chão. Beatas, guardanapos (quando se tem um cão, percebe-se que grande parte do lixo deixado pelos portugueses são guardanapos e lenços de papel. O que dá imenso jeito, porque é das coisas mais fáceis de tirar da boca do cão), cocós de cão, móveis e etc. 
Também à partida, parece ser uma rua só residencial, sem comércio. Num segundo olhar, percebemos que tem duas oficinas numa ponta e duas lojas de indianos na outro. Pelo meio, cabeleireiros, cafés, papelarias e até uma escola primária, de onde, às 9h da manhã, soam uma série de idiomas imagináveis. 
Isto prova que uma aparente rua pacata tem tudo menos pacatez. São muitas as coisas que se ouvem e vêm nesta rua.

A título de exemplo, hoje, quando vinha a chegar a casa, estava um puto dos seus 12/13 anos, de isqueiro na mão, mesmo à porta do meu prédio, a provocar pequenos incêndios em dejectos que se encontravam no chão. Guardanapos, claro está. Se por um lado osincendiava com o isqueiro, por outro, pisava a sua obra com os pés para terminá-la. E eu acho que esta situação descreve na perfeição aquilo que esta rua é para mim: estranha. 


quarta-feira, 18 de julho de 2018

Amarás o teu próximo como a ti mesmo


Não conhecia o senhor. Comecei por ver-lhe palavras dedicadas numa rede social. Que ia deixar saudade, que fez muito pelas pessoas, que o seu legado não seria esquecido. Pensei que tivesse morrido. Afinal de contas temos este hábito de dizer estas coisas só quando já não nos podem ouvir.
Contra todas as minhas expectativas, essa hipótese aterrorizou a cara metade, que, pelos vistos, conhecia e gostava. 
Investiguei um pouco mais. Só pelos posts percebi que o padre deixa a Igreja Matriz da terrinha. Não tinha morrido. Talvez fosse para outra paróquia, Ele achou que ia para o Vaticano. 
Ontem contaram-me. O padre apaixonou-se. 

terça-feira, 17 de julho de 2018

Coisas que eu não admito


Que me digam que estou demasiado gorda para comer Nutella.

Nunca se está demasiado gorda ou cheia para Nutella. Nunca está demasiado frio ou demasiado calor para Nutella.

Nutella foi inventada para me fazer ir ao céu e voltar. 

Podes ficar com o bacon, a batata ou a Coca-Cola, mas não fiques com ela. A Nutella. 

terça-feira, 10 de julho de 2018

Aos 9 anos fui expulsa da escola


Aos 9 anos fui expulsa da escola. Ou, como tantas vezes me corrigem, fui convidada a sair. Na terceira classe da escola primária (acho que hoje é terceiro ano) mudei de escola primária. Os amigos que tinha feito nos 3 anos anteriores (quando se tem 9 anos, 3 anos é uma vida) ficaram para trás. A vergonha daquilo que eu tinha feito, não. Vi-me numa totalmente nova escola, um novo caminho a percorrer todos os dias, novos colegas que poderiam e viriam, ou não, a ser amigos. Uma nova professora. Terceira professora da minha vida, aliás. E um novo medo. O medo que neste novo sítio soubessem aquilo que tinha feito.
Antes desta expulsão tinha sido obrigada a relatar o feito à escola inteira, sob o escrutínio de miúdos de idades inferiores a 10 anos, professoras e contínuas (técnicas de educação, hoje em dia). 
Os meus pais não me disseram muito. Perguntaram se eu sabia o significado daquilo que tinha feito e ali me deixaram a pensar na vida, enquanto os ouvia atender inúmeros telefonemas, aos quais respondiam quase em surdina, e que alimentavam aquele que viria a ser o grande tabu da minha vida nos próximos anos. Vivo numa cidade relativamente pequena. Os meus pais, professores, conhecem grande parte dessa cidade. São conhecidos. Colegas, amigos, alunos, pais, filhos, amigos dos amigos. 
Sabia que cada vez que um novo professor entrava na minha vida, também eles tinham um novo medo. Enquanto eu receava que essas novas pessoas na minha vida descobrissem o que fiz, os meus pais receavam que o voltasse a fazer. Ou apenas algo semelhante.
Ninguém falou no tema até eu ter feito 18 anos, mas eu sabia que estava lá. O elefante cor-de-rosa sentava-se no sofá da nossa sala a cada início do ano lectivo.
Quando fiz 18 anos, o meu pai trouxe-me um papelinho e disse-me que tínhamos que falar sobre o que acontecera. Não reconheci logo o papel. Tremi quando percebi.
O meu pai começou por me explicar que não sabia até que ponto tal evento moldaria a personalidade de uma criança de 9 anos. Que me poderia ele dizer para manter essa ténue delimitação entre o certo e o errado. Não sabia, não soube, como se lidava com semelhante situação.
Ali, naquele momento, enquanto abria e me estendia o papelinho, enquanto eu reconhecia as 4 palavras escritas, a letra de imprensa, engenharia de uma cabeça de 9 anos, o meu pai disse-me: “esta foi a melhor descrição que já fizeste na tua vida. Com 4 palavras apenas, 9 anos de idade, conseguiste descrever alguém esteticamente, afectivamente, intelectualmente e moralmente “. No papel, podia ler-se:

A PROFESSORA É FEIA, MÁ, BURRA E PUTA! 

segunda-feira, 9 de julho de 2018

E pardais ao ninho

Quem diz que o cancro de Lisboa são os pombos ou os turistas ou a Madonna, nunca conduziu em Lisboa e contornou a quantidade insuportável de carros estacionados em segunda linha.



domingo, 8 de julho de 2018

Handmaid’s Tale

Vemos um episódio todas as noites. Sempre depois de comer. Só conseguimos ver um episódio por dia. De preferência em dias que não haja mais nada para fazer e possamos ficar em posição fetal até ao dia seguinte. 

Apertos no peito, suores frios, atenção totalmente dedicada e um vício sem precendentes. Passo a cerca de uma hora que dura cada episódio com sentimentos díspares que vão desde “raios que isto nunca mais acaba, não tenho capacidade emocional para isto” até “espero que isto nunca mais acabe, é absolutamente brilhante”. 

No fim, fica-me só a pergunta: quem raio escreveu isto?!? 




sexta-feira, 6 de julho de 2018

O piaçaba do (des)amor




Há um qualquer síndrome humano que leva a que se sinta a necessidade de que, numa relação se façam coisas, “por mim”. À minha volta conheço vários exemplos. A mulher que pede ao marido para fazer dieta, “se não é por ti, faz por mim”, o gajo que insiste que ela deixe de fumar, “se não é por ti, faz por mim”, a que quer que abrande no trabalho e até a que quer que arrume a roupa suja. Regra geral, há sempre ali um comportamento, a imperfeição dos amores perfeitos aos quais se é tão sensível ou dos quais se está tão cansado que quase dependem deles toda uma relação . Ou apenas uma chantagem emocional.
No nosso caso, há uma guerra pouco muda sobre um piaçaba.
Vim viver com o meu namorado na casa onde este já viveu com a ex. A crise imobiliária não nos permite frescura e, achava eu, fazer de um espaço físico um sítio nosso, não há de ser tão difícil (caro) quanto isso. 
Se não me incomoda dormir no mesmo sítio, usar os mesmos tachos, sentar na mesma cadeira, incomoda-me, insuportavelmente, usar o mesmo piaçaba. Pedi para que o substituisse na primeira semana. O dito está sujo. Sujo daquilo que serve para limpar. Uma vez que ele é que era o gajo da relação, mesmo que só literalmente falando (metaforicamente não faço ideia), até acredito que tenha sido ele. Por outro lado, como, sendo gajo, tem uma qualquer dificuldade em usar a coisa quando é preciso, fico na dúvida. 
A verdade é que aquele objecto assumiu um simbolismo e, passados 5 meses, sempre que me sinto ameaçada por um fantasma que está mais próximo do que eu gostaria, o piaçaba vem à baila. E seguem-se, invariavelmente, promessas de que irá à vida.
Ali continua. O piaçaba e muitos outros objectos cuja utilidade tem sido apenas para discussão. De repente, todo o nosso (des)amor depende dum raio dum piaçaba. O verdadeiro objecto de merda.

E vocês, que objecto/comportamento têm com tal simbolismo? 

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Nada mexeu um milímetro


Nada mexeu um milímetro. Vim apenas ocupar um vazio. Nesse lugar onde estava ela, estou eu. Nada mexeu um milímetro. Estou nas mesmas fotografias, na mesma cama, no mesmo sofá. Onde estava ela, estou eu. Nada mexeu um milímetro e se ali, agora, estou eu, a sombra não é a minha. A luz que me ilumina os livros é a dela. Verde, fraca, baixa. Os talheres que uso para comer. O correio que me disponibilizo a receber. As decisões continuam a não ser minhas. Burocracias, férias, mobílias. 
Nada mexeu um milímetro. Não encontro memórias novas, minhas. E quando mexe, quando a vida se revela diferente, sinto enfado. A família que está à mesma distância. Os amigos que até fazem as mesmas coisas, nos mesmos dias. Que nos dividem. 
Não encontro memórias novas. A mim, não me escreves, não me cozinhas, não me retratas. 
Ocupei um lugar vazio e nada mexeu um milímetro. 

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Show me the money



Depois de uma vida em multinacionais, recentemente descobri a vida dos pequenos negócios em crescimento. 
Gerir pessoas não é fácil em nenhum dos dois lados. Egos, vidas pessoais, vidas profissionais, horários, volume de trabalho, etc. 
O maior erro, muitas vezes comum nos dois sítios, é usar o dinheiro como arma de arremesso. Como única fonte de motivação. Por isso, aqui fica o meu conselho, a ti, chefe/gestor/manager/patrão. Enquanto o dinheiro for a tua arma, tudo o que vais conseguir são pessoas que trabalham só pelo dinheiro. Que não vestem camisola nem dão a extra mile. Enquanto não perceberes que tu investes o dinheiro e o empregado dá o tempo, os conhecimentos, as ideias, não encontrarás a produtividade que procuras.
O dinheiro é necessário para a sobrevivência, mas um bom empregado, aquele que conhece o seu valor, procura desafios, procura reconhecimento, procura respeito. 

Para quem falas tu?

Comentador de notícias na internet, diz-me, para quem falas tu? Para os líderes do mundo? Para os visados nas notícias? Para os jorna...