quinta-feira, 5 de julho de 2018

Nada mexeu um milímetro


Nada mexeu um milímetro. Vim apenas ocupar um vazio. Nesse lugar onde estava ela, estou eu. Nada mexeu um milímetro. Estou nas mesmas fotografias, na mesma cama, no mesmo sofá. Onde estava ela, estou eu. Nada mexeu um milímetro e se ali, agora, estou eu, a sombra não é a minha. A luz que me ilumina os livros é a dela. Verde, fraca, baixa. Os talheres que uso para comer. O correio que me disponibilizo a receber. As decisões continuam a não ser minhas. Burocracias, férias, mobílias. 
Nada mexeu um milímetro. Não encontro memórias novas, minhas. E quando mexe, quando a vida se revela diferente, sinto enfado. A família que está à mesma distância. Os amigos que até fazem as mesmas coisas, nos mesmos dias. Que nos dividem. 
Não encontro memórias novas. A mim, não me escreves, não me cozinhas, não me retratas. 
Ocupei um lugar vazio e nada mexeu um milímetro. 

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