quarta-feira, 21 de novembro de 2018

O texto que ninguém quer ler



Hoje não me apetece fazer piadas sobre a minha relação. Hoje não me apetece partilhar fotos fofinhas da minha cadela. Hoje não me apetece falar de comida e de restaurantes.

Hoje estou triste. Estou triste porque vi o vídeo do Diogo Faro, o Sensivelmente Idiota no qual ele pergunta a várias pessoas se sabem o que é o feminismo e se são feministas. Fiquei triste, em particular, com as mulheres que dizem não querer saber ou ser contra. Uma dessas mulheres afirma no vídeo que a cozinha é lugar para mulheres. Diz que é uma questão de instinto e biologia. Achei curioso como algumas pessoas, dentro de casa, consideram a cozinha como um lugar feito para a mulher, quando cá fora, as posições remuneradas para se estar na cozinha são maioritariamente ocupadas por chefs, por homens.

A verdade é que eu já fui como a mulher que, no vídeo, diz não se interessar, que não é para ela, que não quer saber, enquanto come tranquilamente o seu gelado. Houve uma altura da minha vida que me dizia não feminista. E dizia isto porque estava desinformada e aquilo que me chegava às mãos, ou aos olhos, era informação sensacionalista ou extremista. Isso fazia-me acreditar que ser feminista era não aceitar as diferenças que a própria natureza nos atribui e contra as quais, por muito que se queira, não podemos ir. Achava que ser feminista era ir contra os homens ou não poder aceitar as suas cortesias. Demorei a perceber que é, sobretudo, sobre trabalho em equipa.

Feminismo, ao contrário do que alguém diz tanto no vídeo como por aí, não é sobre ter pelos ou não debaixo dos braços. Isso é outra coisa.

Feminismo, não é achar ou não o Cristiano Ronaldo culpado. Isso é só julgamento.

Feminismo não é fazer ou não parte do movimento #meetoo, não é achar que todos os homens nos vão desrespeitar limites físicos, nem é acusar homens de todos os males do mundo. Isso são outros quinhentos.

Feminismo é, como também diz uma mulher no vídeo (haja esperança), sobre igualdade de género. Igualdade de género é mulheres e homens serem pagos o mesmo pelo mesmo trabalho. Igualdade de género é perceber que, mesmo podendo engravidar, já que coube à mulher essa função na natureza, a mulher também pode ser (e é) uma mais valia numa organização. Feminismo é assumir que, hoje, a mulher faz tanto parte da massa trabalhadora quanto o homem e, por isso, em casa, ao final do dia, as responsabilidades são iguais. “Ajudar” em casa, fazia sentido no século XIX, quando às mulheres eram vedados ainda mais direitos e o papel que lhe cabia era “trabalhar em casa”. A evolução, levou-nos por outro caminho e hoje, salvo exceções, um agregado familiar é composto por dois trabalhadores. Duas pessoas que passam horas fora de casa, gastam energia fora de casa, dividem responsabilidades financeiras e, por isso, deveriam também dividir tarefas familiares.

Feminismo é, também, perceber que se por cá, no nosso cantinho, muitos dos nossos direitos já foram reclamados, noutros cantos do mundo tal não aconteceu e há mulheres que ainda vivem à margem daquilo que homens consideram melhor para elas.

Feminismo é, também, interessarmo-nos por isto e não aceitar o que nos vendem como certo ou tradicional ou biológico, quando biologia não é nada disso.

6 comentários:


  1. Nunca reparaste que eu sempre me afirmei feminista?

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    1. Silent Man, sem querer apaguei o teu comentário. De qualquer forma, acho que a minha mãe me estava a perguntar a mim e que esta é uma perguntar passivo-agressiva "Como assim não seguiste o meu exemplo e não te afirmaste sempre feminista". ahahah

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    2. Fizeste bem, que eu percebi tarde demais que estava a meter o pé na poça até ao pescoço!

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