sexta-feira, 6 de julho de 2018

O piaçaba do (des)amor




Há um qualquer síndrome humano que leva a que se sinta a necessidade de que, numa relação se façam coisas, “por mim”. À minha volta conheço vários exemplos. A mulher que pede ao marido para fazer dieta, “se não é por ti, faz por mim”, o gajo que insiste que ela deixe de fumar, “se não é por ti, faz por mim”, a que quer que abrande no trabalho e até a que quer que arrume a roupa suja. Regra geral, há sempre ali um comportamento, a imperfeição dos amores perfeitos aos quais se é tão sensível ou dos quais se está tão cansado que quase dependem deles toda uma relação . Ou apenas uma chantagem emocional.
No nosso caso, há uma guerra pouco muda sobre um piaçaba.
Vim viver com o meu namorado na casa onde este já viveu com a ex. A crise imobiliária não nos permite frescura e, achava eu, fazer de um espaço físico um sítio nosso, não há de ser tão difícil (caro) quanto isso. 
Se não me incomoda dormir no mesmo sítio, usar os mesmos tachos, sentar na mesma cadeira, incomoda-me, insuportavelmente, usar o mesmo piaçaba. Pedi para que o substituisse na primeira semana. O dito está sujo. Sujo daquilo que serve para limpar. Uma vez que ele é que era o gajo da relação, mesmo que só literalmente falando (metaforicamente não faço ideia), até acredito que tenha sido ele. Por outro lado, como, sendo gajo, tem uma qualquer dificuldade em usar a coisa quando é preciso, fico na dúvida. 
A verdade é que aquele objecto assumiu um simbolismo e, passados 5 meses, sempre que me sinto ameaçada por um fantasma que está mais próximo do que eu gostaria, o piaçaba vem à baila. E seguem-se, invariavelmente, promessas de que irá à vida.
Ali continua. O piaçaba e muitos outros objectos cuja utilidade tem sido apenas para discussão. De repente, todo o nosso (des)amor depende dum raio dum piaçaba. O verdadeiro objecto de merda.

E vocês, que objecto/comportamento têm com tal simbolismo? 

2 comentários:

  1. Piaçaba ou autoclismo ?
    Ooopppsss. Devia ter dito fluxómetro.
    Obrigado por ler alguém, mesmo que incógnito, vivo.

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  2. É mesmo o piaçaba. Felizmente. Pedir-lhe para trocarmos o autoclismo seria muito mais complicado...

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