domingo, 11 de novembro de 2018

Como a websummit quase destruiu a minha relação

Às 10h em ponto já estava eu na fila para me registrar naquele que diziam ser o acontecimento, não do ano, mas de uma vida.
Não percebo nada de tecnologia, nem muitas das 70.000 pessoas que fizeram questão de ali estar, na feira mais tecnológica do mundo, a Websummit.

Na verdade, a minha excitação prendia-se mais com a minha companhia que com a feira. Iamos estar juntas depois de alguns meses. Na verdade, alguns anos, já que depois de eu ter emigrado para a Irlanda, passámos de um convívio diário, para um convívio mais esporádico. Quando dizem que nunca mais voltamos ao mesmo lugar, é disto que falam. Das novas rotinas, das novas famílias, das estradas que mudaram de sentido, prédios que foram construídos, lojas que fecharam. Os amigos habituam-se a viver sem nós e retomar de onde ficámos é duro. 

Chegámos sem fazer a mínima ideia daquilo que devíamos esperar do pretexto que agora nos juntava. E aquilo é um mundo. As tais 70.000 pessoas, um número sem fim de start-ups, stands de empresas menos starters, conferências, pitchs, encontros, brindes, comidas e bebidas. 

Passámos o dia a tentar encontrar o fio à meada e acabámos, cansadas, sentadas numa esplanada. Bebemos uma caipirinha para relaxar. E depois outra. E foi quanto bastou para eu ficar totalmente embriagada. 

Fui visitar o stand do João, o meu namorado, que se encontrava também ali, em trabalho. Conta ele que vinha contente e a falar alto. Mesmo no ponto ideal para me apresentar à chefe, colegas e outros que tais. Só que não.

A custo, lá me arrancaram dali e fui para casa. Na altura vivia na outra margem, pelo que tinha que apanhar o metro, o barco e, finalmente, o carro. Vomitei na casa de banho de uma das estações de metro, o que deixou o João, que ia acompanhando a saga por mensagens, em sobressalto. Tentou dissuadir-me de ir assim para casa, mas eu, bebeda, tinha uma missão, não queria perturbar o seu trabalho. Disse-lhe que não, que já estava no barco, que não valia ir-me buscar e pardais ao ninho. 
Entretanto, faltavam 30 minutos para o barco, tinha fome e, como não estava na posse de todas as minhas faculdades, achei que era tenpo suficiente para ir jantar, voltar e apanhar tal barco. Fiquei sem bateria no telefone. Perdi a noção do tempo. Perdi o barco. 

Quando, finalmente, arranjo maneira de ligar o telefone e contactar o João, este tinha-se deslocado à outra margem para me impedir de pegar no carro. Como eu tinha perdido o barco, ele já lá estava há uma hora sem fazer puto de ideia onde eu estaria. Ligo-lhe sem fazer também ideia da sua espera.

- onde estás?
- estou a jantar com o Marco. 

Ele não disse, mas eu ouvi no seu tom de voz, “quem raio é o Marco?”. 

E eu explico-vos, aqui e agora. Fui jantar ao H3 do Cais do Sodré. Aquele em que servem às mesas. Estava lá sentadinha sozinha convencida de que tinha todo o tempo do mundo para apanhar o barco, quando vejo um colega de trabalho, também ele sozinho. Juntámo-nos na mesma mesa. E foi só isto. 

Quando percebi que o João estava à minha espera, corri para o barco. Acho que ainda tive que esperar outra meia hora. No total, o João esperou por mim duas horas, sempre sem saber quem raio era o Marco. 
Cheguei e levou-me a casa. Quando chegámos, estava a minha mãe à porta a passear a minha cadela. O João ainda não tinha sido oficialmente apresentado à família. A minha mãe deu por falta do meu próprio carro. Eu expliquei-lhe, “Ficou nos barcos porque eu não estou em condições de conduzir”. Isto sem dar qualquer oportunidade ao João de lhe explicar que me entregava ali naquele estado sem qualquer responsabilidade pelo mesmo. 

No final, fiquei de ressaca ainda antes de me passar a bebedeira, que é das sensações mais horríveis que já tive. E o João? O João perdoou-me. 


2 comentários:

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