quarta-feira, 7 de novembro de 2018

É droga!

A minha prima mais nova foi fazer um mestrado a Barcelona e veio de lá enamorada de um peruano.
Quando contámos à minha avó, a sua primeira preocupação foi o facto de viverem os dois sozinhos em Barcelona e poder dar-se a possibilidade de viverem amantizados que é como quem diz dormirem juntos sem estarem casados. Obviamente que não, explicámos-lhe. Estas alminhas de vinte e poucos anos nunca na vida, nunquinha, iam dormir juntos. Cada um na sua cama, claro está.

A segunda preocupação foi com a fonte de rendimentos de alguém do Peru. Para a minha avó, qualquer pessoa que seja oriunda da América Latina (com excepção do Brasil, vá se lá perceber porquê) vive de negócios ilícitos com estupefacientes. Isto significa que sempre que se fala dele, ela acrescenta ao diálogo a simples frase “é droga!”.

- Mas vó, eu fui à Internet (esse mundo que ela ainda não percebe e claro que eu ia pesquisar o namorado da minha prima, mesmo que ele fosse o meu vizinho de baixo) e vi que a família dele tem posses.
- É droga!
- vi que são socialite do sítio. Aparecem em revistas tipo a Caras.
- aparecem em revistas? É droga!
- os pais dele têm gado.
- têm gado? É droga!
- o pai dele importa carne para a Europa
- e na carne vem droga!

Não vale a pena discutir com ela. Ninguém a convence do contrário, ninguém lhe explica o quão preconceituosa é e nem sequer ouve quando lhe dizemos que é a Colombia a que tem fama de esquemas nessa indústria. Nada feito.

A mim, resta conformar-me com o que acrescenta quando se fala do namorado com o qual, que vergonha!, estou amantizada. “É do PSD.” O que para ela é uma coisa boa. 




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