sábado, 17 de novembro de 2018

Crónicas de uma vida a dois - A roupa

Para falar da importância do tema roupa na minha relação, tenho que tocar em dois aspectos, a capacidade estética e a capacidade para lavar. Se num, o João nunca me enganou, no outro, vim completamente ao engano.

O João gaba-se muito de saber fazer tudo em casa. Diz que a mãe o ensinou antes de fazer Erasmus. O problema é que não explica que a mãe ensinou 5 minutos antes dele arrancar e, até aí, fez-lhe absolutamente tudo. Desde tratar-lhe da roupa, até lhe descascar a frutinha toda. 
Quando o João veio viver para esta casa, em Fevereiro, eu, supostamente, ainda não vivia com ele. Digo supostamente, porque na verdade já passava cá bastante tempo e assim fui ficando até ao dia em que nos apercebemos que nunca mais saí. Para não andar com a trouxa sempre atrás, ia deixando alguns essenciais por cá. Quando me começaram a faltar cuecas, o João aproveitou. “Já que vais fazer uma máquina, podes lavar isto aqui, também?”. E eu, que namorava com ele há pouco tempo e ainda andava na fase da conquista, assenti, “claro que sim”. Vou lavar-lhe a roupa de tal maneira que nunca ele viu roupa tão bem lavada. Vai adorar-me, ainda mais, e viveremos felizes para sempre. E assim foi. Eu não sabia, mas este foi o mote para uma relação muito duradoura. A minha com a máquina de lavar. Até hoje, passados 8 meses, nunca o Joao sequer carregou num botão da máquina. Diz que não sabe. Tirou um curso superior, já trabalhou com consultor, mudou de área para passar a ser uma coisa que ninguém sabe o que é e que chamam de estratega. Estratégia para aprender a rodar um botão numa máquina é que nem vê-la. 

Depois temos a parte da capacidade estética do menino para se vestir. Felizmente, ele tem uma amiga que o adora e se predispõe a ir com ele às compras. Uma espécie de personal shopper. Ele avisou-me sobre isto logo no primeiro encontro. Conhecemo-nos no início do Verao, pelo que durante alguns meses só vi com umas t-shirts com graçolas e uns calções pelo joelho, que por ser gordinho e branquelas lhe ficam muito fofinhos. Conheci a amiga personal shopper precisamente no pleno das suas funções. Fui ter com eles ao corte inglés. Ia nervosa porque esta me parecia importante na vida dele e na minha validação enquanto merecedora do seu amor. Fiquei impressionada com a sua desenvoltura. Já sabe o que lhe fica bem, o número dele e deixa-o muito compostinho. 
Entretanto, chegou o Inverno e com ele veio a camisola da banana. Uma camisola de malha com um desenho de uma banana semi-descascada. Uma peça escolhida, única e exclusivamente, por ele. Sem ajudas. Quase que achei fofinho, numa cena à Bridget Jones e a camisola de Natal de Mr. Darcy. Só que não. 

A semana passada, quando eu achava que nada podia ser pior que a banana, ele diz-me, super feliz, que comprou uma camisola nova. Para finalizar e para se perceber o motivo pelo qual vale a pena escrever este texto, deixo-vos uma foto da dita. Deixo também a questão, como é que se destroem camisolas de modo a parecer um acidente? É para uma amiga. 






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